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Acervo histórico da gravadora Rozenblit será digitalizado

DIÁRIO DE PERNAMBUCO

Criada em 1954 por José Rozenblit, a fábrica/gravadora que leva o sobrenome do comerciante de origem judaica chegou a ser uma das mais importantes do país. Em especial durante os anos 1960, quando dominou quase um quarto do mercado fonográfico brasileiro. Adquirido em outubro de 1995 pelo empresário de comunicação João Florentino, o acervo da Rozenblit agora entra na era da distribuição online. Todo o conteúdo está sendo digitalizado e disponibilizado, em diversos canais de audição e venda por streaming.

“Desde fevereiro, estamos trabalhando no envio de discos inteiros de Nelson Ferreira, Capiba, Claudionor Germano, Zé Kéti, Agostinho dos Santos, Coronel Ludugero, entre outros, para plataformas como iTunes, Amazon, Spotify, Deezer, além do YouTube”, explica o técnico de som Hélio Ricardo Rozenblit (um dos filhos de José Rozenblit), que trabalha com João Florentino.

O empresário foi proprietário da antiga rede de lojas Aky Discos, da distribuidora de discos Condil e do selo Polydisc – pelo qual chegou a lançar álbuns da Banda Calypso, Babado Novo (ainda com Claudia Leitte) e a série 20 Super Sucessos. As coletâneas reuniam hits de Adilson Ramos, Vanusa, Noite Ilustrada, Núbia Lafaiete, Reginaldo Rossi, Cauby Peixoto, Dominguinhos, Erasmo Carlos, Jair Rodrigues, entre muitos outros artistas populares, e estão em processo de digitalização.

Bastante tarimbado no mundo da indústria musical, João Florentino não tem expectativas em relação ao lucro por meio de vendas do acervo digital da Rozenblit. “Faço isso porque gosto da música de Pernambuco e para não deixar o acervo morrer, para se perpetuar na história”, defende.

A distribuição internacional do acervo da Rozenblit, das coletâneas e de outros lançamentos da Polydisc está sendo feita pela Believe Digital. A empresa, sediada na França, mantém escritórios em mais de 20 países da Europa, Ásia e Américas. “Trabalhar com um catálogo como o da Rozenblit é resgatar um pouco da história da música brasileira em sua diversidade e colocá-la em destaque no país e no mundo, com todo respeito necessário”, diz James Lima, gerente da Believe no Brasil.

O acordo para lançar os discos da Polydisc foi feito recentemente e o da Rozenblit há cerca de um ano. “É quase um trabalho de arqueologia. Acredito que mais uns 50 a 100 álbuns estarão disponíveis até o fim do ano”, projeta James.

Foto: Nando Chiappetta/DP/D.A Press
Foto: Nando Chiappetta/DP/D.A Press

Digitalização

Processo
Após serem retiradas da sala onde estão acondicionadas, as fitas originais precisam ser higienizadas com bastante cuidado. Depois é preciso reproduzi-las, uma por uma, em gravador de rolo. “Algumas estão tão deterioradas que simplesmente se desmancham”, conta Hélio Rozenblit. A partir daí, o conteúdo é convertido do formato analógico para o digital e, em seguida, enviado para o computador. É preciso analisar e consertar eventuais defeitos contidos em cada uma das faixas.

Documentos
O acervo de cerca de mil títulos se encontra armazenado numa sala do estúdio Somax, localizado na Rua Imperial, bairro de São José. Além das fitas originais de gravações realizadas por artistas pernambucanos, nacionais e internacionais, o local abriga antigos contratos artísticos. É o caso do documento assinado por Reginaldo Rodrigues dos Santos, integrante do The Silver Jets, que depois seguiria carreira solo como Reginaldo Rossi. Também há documentos de liberação de canções que precisavam ser aprovados pela censura instalada pela ditadura militar.

Selo inglês
Há dois anos, o selo inglês Mr. Bongo tem relançado discos da Rozenblit na Europa. As obras saem em LP e CD e incluem títulos raros e cultuados a exemplo doPaêbirú, de Lula Côrtes e Zé Ramalho; Flaviola e o Bando do SolMarconi Notaro no Sub Reino dos MetazoáriosGrande liquidação, de Tom Zé; o EPAratanha Azul, da banda pernambucana homônima, do pioneiro da bossa nova Johnny Alf, entre muitos outros. O catálogo pode ser acessado pelo link.

Documentário
A jornalista e produtora cultural Melina Hickson lançou em 1998 o documentário Eco da Rozenblit – Memórias de uma fábrica de discos. Além de fatores econômicos, as constantes enchentes que castigaram o Recife durante as décadas de 1960 e 1970 contribuíram para o fechamento da gravadora, que funcionou na Estrada dos Remédios, em Afogados, até meados dos anos 1980.

Selos
A Rozenblit lançava seus discos utilizando os selos Mocambo (de música regional), Passarela (coletâneas carnavalescas, sambas, trilhas sonoras), Artistas Unidos (gravações de músicos das regiões Sul e Sudeste do Brasil), Arquivo (coletâneas especiais) e Solar (dedicado a sons mais experimentais).

Redes sociais
Aos poucos, o conteúdo da Rozenblit está sendo publicado na redes sociais. A antiga fábrica e gravadora tem perfis no Facebook e YouTube.

 

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