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ARTIGO DE OPINIÃO- Mediando conflitos para prevenir a violência escolar

 Por Alberto Guerra – Professor

A tragédia ocorrida em março, na cidade de Suzano, São Paulo, causou comoção nacional e tem repercutido até hoje, por ter sido mais uma das fatídicas manifestações da violência nas escolas do país.  Em todos os lugares e mídias se viram opiniões variadas sobre motivações e responsabilizações para o que aconteceu. De fato, a violência escolar precisa de ações de combate a seus efeitos. Se perguntarmos a um cidadão, dos mais bem-intencionados, como se daria esse “combate” à violência, ouviremos sugestões como: mais câmeras de monitoramento nas escolas, ou talvez aumentar os muros, porteiros mais qualificados, quem sabe policiais de plantão na frente da escola. Estas certamente são medidas necessárias e importantes à segurança dos que estão na escola.

Na verdade, o que precisa ser feito, a priori, para que tragédias deste tipo sejam evitadas, é o investimento em prevenção! Essa forma de prevenir pode ser obtida através de ações simples, mas responsáveis, de escuta ativa, de presença educativa dos educadores.

A mediação de conflitos, que é o tema de nossa pesquisa no mestrado pela Universidade de Pernambuco, defende que professores e gestão precisam estar atentos aos primeiros sinais de divergência, antagonismos, bullying, para que possam agir imediatamente, mediando a situação, a fim de que não se desenvolvam em violência explícita. Na mediação, recurso também muito presente no campo do Direito, procura-se encontrar saídas, junto às partes, para que os conflitos sejam resolvidos a contento.

A omissão da escola frente aos mínimos episódios conflituosos, ou a tendência a naturalizar certas práticas de alunos e educadores, que incentivam as chamadas violências simbólicas, e o bullying é um exemplo disso, podem acarretar consequências lastimáveis no futuro, tanto para os autores, quanto para os inocentes que serão envolvidos em atos de violência.

O Aprender a Conviver, da Educação Interdimensional, referencial pedagógico das escolas de Ensino Integral de Pernambuco, e segundo objeto da pesquisa, demonstra ser um importante instrumento preventivo da violência escolar, visto que desenvolve na convivência cotidiana dos estudantes o senso de tolerância e respeito ao próximo e às diferenças.

Apesar disso, há muito ainda a se evoluir nestas práticas de mediação, boa convivência e consequente prevenção à violência nas escolas estaduais, quer sejam integrais ou regulares. São grandes os desafios diários de gestores e professores para identificar e prevenir a violência escolar. Outra questão é a carência de psicólogos nestas escolas, alguém que tenha um olhar profissional em relação à dinâmica da vida de crianças e adolescentes, que auxilie pais e professores a identificar tendências a suicídio, automutilação, depressão, bullying, as quais, sob a ótica de um leigo podem passar despercebidas.

É lamentável que fatos como este tragam dor e medo, chocando a todos, em um local de aprendizagem e desenvolvimento do jovem, que deveria ser irradiador da cultura de paz para a sociedade. Que nossos legisladores tenham um olhar humano em benefício de nossos jovens, e que elaborem políticas públicas para atender a esta demanda que já se mostra urgente.

Alberto Guerra é professor do Programa de Ensino Integral e mestrando do Programa de Mestrado Profissional em Educação (PPGE/UPE) – Nazaré da Mata. Sua pesquisa, na linha de políticas públicas, é voltada à Educação Interdimensional na mediação de conflitos em escolas integrais.

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