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Árvore: Símbolo de fé na História da Humanidade

Por Lucas de Araújo Alves– Historiador-Licenciado/ Ativista Ambiental

Ao longo de sua jornada em busca do conhecimento acerca dos mistérios que regem o universo, do ciclo vital de suas próprias origens, o homem se apropriou de diversos mecanismos através dos quais tencionou ter vislumbres satisfatórios para seus mais inquietantes questionamentos.

Desde o período neolítico, a narrativa ricamente adornada de metáforas e símbolos dos mais variados, despontou como uma ferramenta didática eficaz para a interpretação da vida, da sociedade e da própria cultura de determinados povos. A árvore foi então posta como protagonista em diversas dessas narrativas sagradas de tribos que habitavam diferentes regiões do planeta, assumindo assim a conotação de vida, fé, sabedoria, força, fertilidade, generosidade e abnegação, se tornando até mesmo elemento indispensável em diversas práticas religiosas.

Na narrativa judaica e cristã (pois embora os judeus não sejam cristãos transmitem a mesma narrativa) acerca da origem de tudo (livro do Gênesis) a árvore aparece com uma profunda ambiguidade, sendo no Éden uma árvore a responsável por conter em seu fruto a dádiva da vida eterna para quem dele se alimentasse, e no mesmo jardim outra árvore dava o fruto que proporcionava a quem lhe degustasse o conhecimento do bem e do mal e a morte como legado da desobediência da restrição entregue por Deus. Assim, o papel filosófico que a árvore desempenha no livro do Gênesis, faz referência à essência humana, sendo o próprio homem detentor do bem e do mal, do acesso à espiritualidade e conhecimento, bem como da inevitável finitude da matéria.

À aproximadamente 10.000 A.C., diversos povos acadianos (Babilônicos) e inclusive uma parte dos israelitas cultuavam uma deusa conhecida como Aserá ou Astarte que significa “Árvore da Vida”, símbolo de fertilidade no Oriente, era representada por uma árvore que era posta no templo. Assim como os sumérios, os babilônicos costumavam fazer das sombras das árvores locais de culto onde queimavam incenso e realizavam rituais de fertilidade. Ainda podemos encontrar preciosos relatos sobre a relação entre os cultos sumérios e as árvores em grandes obras da literatura internacional como “As brumas de Avalon”, onde os carvalhos tem papel de extrema importância na religião dos povos antigos.

Em algumas religiões de matizes africanas a ancestralidade é cultuada em rituais nos quais os envolvidos afirmam se conectar aos seus antepassados através das árvores sagradas de suas tribos. Esse culto ainda permanece vivo em Angola por exemplo. O baobá é visto pelo culto iorubá como a árvore da criação, pois foi ela que possibilitou o acesso dos orixás ao nosso plano ou dimensão, sendo por tanto o elo entre o espiritual e o palpável. 

Cruzando o Atlântico, nós temos o sincretismo entre o culto iorubá e o culto tupi, através dessa união a sacralização da árvore foi personificada na jurema, árvore que fornece substância alucinógena, com a qual é preparada uma bebida forte consumida pelos guerreiros da tribo nos festejos de Tupã, fato imortalizado por José de Alencar em sua obra Iracema.

Não sendo possível esgotarmos o assunto, este artigo segue como fonte de informação e reflexão sobre o papel salutar que a árvore desempenha na história da humanidade, não apenas como fonte de alimento, matéria prima e oxigênio, mas como figura alvo da filosofia e da fé.

*Coluna do Movimento Reflorestando Carpina (https://www.facebook.com/reflorestando.carpina.7)

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