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Bonequeiro usa motor de máquina de lavar para dar vida a mamulengos

G1// “Já parei até de ganhar dinheiro, mas nunca paro de trabalhar”, conta o artesão Ermírio José da Silva, natural de Carpina, Zona da Mata Norte de Pernambuco. Aos sete anos de idade, Ermírio já começava a ensaiar o que um dia iria transformá-lo em Miro dos Bonecos: ele treinava a montagem de marionetes nos cabos de vassoura que tinha em casa. Esta 17ª edição da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte) é mais uma em que o artesão leva a boneca Maria Grande, mais encorpada que o cabo de vassoura que fazia na infância, para dançar na Alameda dos Mestres.

O bonequeiro já falecido mestre Solón, que conheceu quando tinha sete anos, foi a principal inspiração do artesão. “Pegou aquele negócio dentro de mim como se fosse um choque. Disse pro meu pai que queria fazer bonecos e ele achou que eu não conseguiria. Quando cheguei em casa, peguei um cabo de vassoura e fiquei pensando no que eu poderia colocar ali pra dar vida”, relembra rindo. A resposta veio com uma mangueira e as meias do irmão, que ajudaram Miro a fazer as mãos e a roupa do primeiro boneco.

“Quanto mais você vai fazendo, mais vai pegando gosto. Achei que era só um passatempo, mas virou o meu sustento. Hoje eu gero renda pra três gerações da minha família com os meus bonecos”, revela. Maria Grande, como é chamada a famosa boneca que dança forró, é a preferida do artista e faz parte dessa conquista. “É porque além da gente dar vida a ela, ela dá vida pra gente, ela faz a gente dançar e se movimentar. Foi a que chegou pra ficar. Eu vendo muitas réplicas, mas ela fica comigo sempre”, diz.

Miro dos Bonecos dança com sua criação, Maria Grande (Foto: Moema França/G1)
Miro dos Bonecos dança com sua criação, Maria Grande (Foto: Moema França/G1)

Miro gosta de fazer peças grandes com artigos que acha no lixo. A máquina de mamulengos que fica na entrada do estande da Fenearte é toda feita com material reciclado, incluindo o motor de uma máquina de lavar para fazer os bonecos se moverem. Para funcionar, basta colocar uma moeda e ver o show acontecer. “Ela só tem de industrial o motor da máquina de lavar, mas o resto é lixo, sucata e as roupagens que nós fazemos”, conta o mestre artesão.

Mesmo as peças mais trabalhosas de Miro não levam mais do que um mês para ficarem prontas, numa produção que envolve filhos, netos e outros parentes. Uma montagem da santa ceia em movimento de bonecos, que já rendeu ao mestre o primeiro lugar no Salão de Arte Popular Ana Holanda há alguns anos, demorou quase um mês para ser finalizada. “Quando eu tô montando uma peça, eu já estudo outra. Faço muito por encomenda e a que eu mais vendo é a marionete de mamulengo”, diz.

A Fenearte funciona das 14h às 22h, durante a semana, e das 10h às 22h, nos sábados e domingos. Os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia) de segunda a quinta e R$ 12 e R$ 6 (meia) nas sextas, sábados e domingos.

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