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CARPINA// A burrinha brejeira de Gilvan

Por Paulo Ferreira

Nas festanças da nossa cultura, “personagens” do folclore nordestino se destacam, fazendo essas festas mais animadas e encantando o público, a exemplo das burrinhas. Além de interessantes, sobressaem por sua simbologia.  A burrinha, burro ou o jumento, foi muito importante na construção da civilização brasileira, em especial a nordestina. E quem foi que salvou Jesus, fugindo com a sagrada família para o Egito? A burrinha! Por isso elas são muito queridas.

A tradição de se confeccionar burrinhas é antiga. Diz o dicionário do folclore: “Trata-se de um folguedo que ocorre em várias regiões do Brasil. Consta de um homem mascarado, com um balaio de cipó na cintura, simulando cavalgar uma burrinha de cabeça de folha-de-frandres” (lata). E para não deixar essa tradição se acabar, um artesão em Carpina dedica-se a elas há mais de 50 anos. Tanto que é chamado de Gilvan das Burrinhas. Gilvan Guilherme da Silva, 67 anos, nasceu “à rua Manoel Moreira de Morais, 217”, em Carpina.  “Nasceu artesão”, pois ainda pequeno fazia seus próprios brinquedos, como carrinhos de lata e “Mané Gostoso, que queria tê-los; mas meu pai não podia comprá-los, aí eu mesmo fiz”. “Assim comecei a colocar brinquedos na frente da minha casa e muitas pessoas compravam, e terminei me interessando pelo artesanato”, contou.

Apenas teve a influência do Mestre Solon, que fabricava as cabeças das burrinhas e ele o “corpo”, pintura, vestimenta e adereço. “Depois que o mestre partiu, faço minhas próprias burrinhas, todas sorrindo”. Ele trabalha com vários tipos de materiais, principalmente o reciclado. Mesmo fazendo artesanato de peças diferentes, como máscaras de papel maché, bois e personagens da cultura nordestina, foi professor e carteiro, tendo que pedir demissão dos Correios para dedicar-se à arte. É formado em contabilidade e tem faculdade de Matemática. Mas preferiu a arte.

No entanto, hoje, sente-se “desmotivado pela falta de apoio dos órgãos públicos e pelo desprezo das pessoas pela cultura popular”. Ele criou uma escolinha para ensinar artesanato, mas não houve interesse das pessoas. Também lamenta o descaso do poder público com a cultura e a história: “Veja Carpina, por exemplo, a antiga estação está servindo de Lan house, o museu foi desativado e as peças estão se deteriorando.

O mamulengo do Mestre Solon foi doado a museus de Olinda, por falta de interesse dos gestores carpinenses”. Ele participa de várias feiras de artesanato, regionais e nacionais. Tem peças espalhadas em diversas partes do mundo e nas mesas de grandes personalidades. Também é ativista, em favor dos menores abandonados. Seu ateliê fica à Avenida Estácio Coimbra, 818, um dos pontos turísticos de Carpina. Suas peças são lembranças, souvenirs, da cidade.

Filha de engenho – A burrinha é uma dança dramática ou folguedo brasileiro que resiste a mais de 200 anos. Nas festas de reis, a burrinha era acompanhada por um grupo de brincantes e uma orquestra de viola, ganzá e pandeiro. Nasceu nos terreiros dos engenhos, filha da civilização do açúcar.

Invenção e diversão dos trabalhadores de engenhos, cambiteiros e cortadores de cana. Desgarrada do reisado para o bumba-meu-boi, empresta sua alegria para outros folguedos, como o maracatu e o cavalo marinho. No carnaval pernambucano há blocos de burrinhas em diversos municípios. Em Limoeiro, quebrou-se o tabu, onde antes somente homens se fantasiavam de burrinhas, hoje existe o bloco Calu Mulher, burrinhas cavalgadas por mulheres, com peças de Gilvan das Burrinhas.

 

 

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