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Carpina, a consolidação de uma cidade a partir de sua história

No dia 11 de setembro de 1928 Pernambuco ganhava um novo município: Carpina. Prestes a completar 90 anos, a cidade ainda tem muitas histórias e caminhos a trilhar. Ao observar a sua área central, é possível perceber a proporção do seu desenvolvimento. O grande fluxo de pessoas, o centro comercial, o delineamento de ruas e praças, as moradias, por exemplo, constituem o aspecto urbano. O cotidiano da cidade acabou mudando totalmente a paisagem inicial do vilarejo. A economia foi a maior propulsora para essa mudança, especialmente pela exploração inicial do Pau Brasil e, posteriormente, pelo estabelecimento dos engenhos de cana-de-açúcar.

Da Chã do Carpina e Floresta dos Leões só restaram saudades. Acontecimentos como as atividades no Campo de Baltazar, as noites no Cine Radium, o som dos alto falantes, as quermesses ou a animação das noites marianas na Matriz de São José, com as apresentações culturais após as missas, com as retretas da Banda Quebra Resguardo, por exemplo, ficaram na memória dos seus antigos moradores.

A escritora Luiza Vasconcelos (foto), 82 anos, reconta suas lembranças e com saudades descreve o crescimento da cidade. “Carpina era uma cidade bucólica, provinciana e muito tranquila. Os visitantes vinham descansar nos sítios, a água era abundante e com qualidade, as ruas eram de terraplanagem, as pessoas tinham uma vida social e se visitavam, as ruas arborizadas, sem falar da tranquilidade e o clima”, relembra.

No entanto, é possível voltar no tempo e reviver a história de Carpina em alguns pontos da cidade. Um desses é a Estação, bem no centro da cidade. A presença,ainda, dos trilhos de ferro está intimamente ligada com a colonização, o surgimento e o desenvolvimento do povoado.

Filha única, Luiza Vasconcelos morava com os pais, Manoel Barbosa e Rita Carolina, na Rua Sotero Marques, hoje Av. Joaquim Pinto Lapa, bem próximo à estação ferroviária. A casa era um chalé azul de portas e janelas verdes e largas. A mesma fazia divisão com a antiga delegacia de polícia e em frente ficava a casa do mestre de linha, o girador dos trens e os trilhos da ferrovia que seguiam em direção a Limoeiro. Muito cedo chegava o trem e estremecia toda a casa.

Ela recorda ainda do som da sineta que indicava a sua chegada, as manobras dos maquinistas, as divisões por classes nos vagões, a lotação de passageiros na plataforma da estação, enfim. Para a garotada tudo era uma festa e se divertiam subindo nos vagões. O local também era um ponto de encontro onde as jovens ficavam aguardando os passageiros, especialmente às 17h.

A imagem da jaqueira da estação permanece nítida na memória de Luiza Vasconcelos. A descrição de sua imponência ao lado da estação ferroviária, servindo como parada para o descanso dos moradores, que em muitos casos vinham da zona rural permaneciam debaixo de sua sombra, especialmente nos dias de feira, nos quais encontravam ali o repouso para seguir viajem. “Tenho saudades da estação, da movimentação dos trens, das festas de reis, das retretas nas noites de maio, enfim, tenho saudades de tudo”, ressalta.

A feira era um ponto turístico de Carpina. Com uma variedade de produtos atraía compradores até mesmo do Recife, que lotavam o trem feireiro aos domingos. Fotógrafos com os tradicionais lambe-lambes, emboladores de coco fazendo suas rimas e comercializando cordéis, os bancos de comida servindo o café da manhã e o almoço e até mesmo a movimentação de carroças e balaios com mercadorias faziam parte do cenário.

A consolidação da atividade comercial foi primordial para o processo de urbanização.  Inicialmente eram comuns os armazéns de estivas e padarias, com a venda de bolachas, pães, massas alimentícias, cereais e bebidas, além de charque, bacalhau, farinha de trigo, álcool e carvão, por exemplo. A dona de casa, Maria Antônia Lira, 63 anos, lembra das tradicionais festas de Santos Reis e as festas no Clube Lenhadores. “Noites inesquecíveis que fazem parte da nossa lembrança. Momentos bons que foram se perdendo com o tempo. Hoje nos resta apenas a saudade de uma fase marcante na história de Carpina e que não volta mais”, diz.

O progresso trouxe consigo as mudanças. A história de Carpina permanece nas recordações de seus moradores.

*Matéria publicada na edição de Maio do Jornal Voz do Planalto

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