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Carpina abriga refugiados da Venezuela

A Venezuela está mergulhada em uma crise econômica sem precedentes, e a presidência de Nicolás Maduro é questionada pelo líder opositor Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino e reconhecido por mais de 50 países. Desde 2015, após Nicolás Maduro perder as eleições parlamentares, parte da população venezuelana começou a emigrar em maiores números para alguns países da América Latina. O aumento exponencial da imigração de venezuelanos para o Brasil tem relação direta com o agravamento da crise política, econômica e social do país, com inflação alta e desabastecimento. A cidade de Pacaraima, em Roraima, é a principal porta de entrada dos venezuelanos no Brasil.
Um relatório da Organização dos Estados Americanos prevê mais de 5 milhões de imigrantes da Venezuela em 2019, um fluxo migratório equiparado aos provocados por guerras como a da Síria e do Afeganistão. A expectativa é de que, se permanecer a atual tendência, o total de imigrantes e refugiados venezuelanos chegará a 7,5 e 8,2 milhões no final de 2020.
Em abril do ano passado, o Governo Federal iniciou o processo de “interiorização” para reduzir o impacto social desse grande fluxo de imigrantes em Roraima e deslocar parte desse contingente de imigrantes para outras regiões brasileiras. O Estado de Pernambuco está recebendo os venezuelanos e, em Carpina, a Ação Missionária para Áreas Inóspitas (AMAI), localizada no Bairro Novo, está oferecendo esse suporte. No ano passado, a instituição abrigou um grupo de 12 e, atualmente, são 31 imigrantes. Eles recebem moradia, alimentação, acompanhamento médico, assistência educacional e suporte para conseguirem ingressar no mercado de trabalho. Todas as atividades desenvolvidas são voluntárias e contam com o apoio de doações. Eles ficam temporariamente na base da AMAI até conseguirem se estabilizar economicamente e terem condições de se manterem.
A AMAI é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, fundada em 2002 pelo Pastor Josenildo Virgolino de Lima. Inicialmente, realizavam um trabalho evangelístico com famílias no Sertão de Pernambuco e, desde o ano passado, abrangeram sua atuação, acolhendo temporariamente os refugiados venezuelanos. A instituição está localizada à Rua Maria Anunciada Pinheiro Dias, Nº1121, no Bairro Novo.
A venezuelana Gisell Guevara foi a primeira a chegar a AMAI, em março do ano passado, juntamente com outras 12 pessoas. Ela morou por oito meses na base missionária até conseguir se estabilizar. Ela havia permanecido por um mês em Roraima. A maioria dos venezuelanos em Carpina não está trabalhando. Para Gisell Guevara, o maior empecilho é “conseguir emprego, porque temos que dominar a língua portuguesa, e os nossos diplomas não são válidos no Brasil e para fazer revalidação em um processo longo e caro, em muitos lugares não querem assinar a carteira do trabalho”, explica. Gisell Guevara deixou na Venezuela a maioria da sua família como pai, tios e primos. Sobre a situação que o seu país enfrenta, ela analisa como “muito crítica, horrível, nenhum ser humano merece essa situação. Minha esperança está em Deus primeiramente; no futuro quero estar perto da minha família”, afirma.
No recente grupo acolhido pela AMAI estão 13 crianças, um adolescente, 16 adultos e um idoso. Por meio das secretarias municipais de Saúde, Educação e Assistência Social eles estão recebendo atendimento de saúde, inclusão em escolas para as crianças em idade escolar, bem como estratégias de qualificação profissional e inserção no mercado de trabalho.

O casal Alejandro Flores e Daniela Lopes foi recebido por Severina Carlos, representante da AMAI

Alejandro Flores faz parte desse grupo juntamente com a esposa Daniela Lopes e os dois filhos. Eles estão há oito meses no Brasil e passaram quatro dias caminhando até chegarem à cidade de Pacaraima, e Roraima. Da Venezuela, as lembranças são as mais tristes. “Enfrentamos muitas dificuldades na Venezuela. Nos últimos quatro anos passamos fome e nos alimentávamos uma ou duas vezes ao dia. Fomos expulsos da nossa casa por homens armados”, conta. Em seu país Alejandro Flores trabalhava como segurança, ajudante de pedreiro e fazia outros tipos de serviço para conseguir sustentar a família. Em Carpina, a esperança é conseguir um emprego. “Agradeço pelo acolhimento e pela ajuda que temos recebido. Vemos triste de Venezuela, pois é algo muito doloroso, mas vemos as mãos de Deus através dos brasileiros e Estamos muito agradecidos por tudo e que Deus abençoe sempre vocês”, relata.
Os imigrantes em Carpina possuem qualificação em várias áreas. Eles estão à procura de emprego e, apesar de tudo o que já enfrentaram, estão confiantes nessa nova oportunidade que estão recebendo em solo brasileiro.

*Matéria publicada na edição de maio de 2019 do Jornal Voz do Planalto 

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