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COLUNA SAÚDE// Há vida nova após a UTI?

Já foi o tempo em que a internação em unidades de terapia intensiva era sinônimo de morte. Avanços nesta área levaram a um aumento na sobrevivência de pacientes a muitas doenças fatais, porém os que são acometidos por estas enfermidades, ao retornarem para suas casas, não são mais os mesmos, pois muitas vezes acumulam deficiências funcionais que os incapacitam ao trabalho, acarretando situações de perda de status financeiro, limitações físicas, cognitivas e stress pós-traumático. Eles se enquadram numa nova síndrome cada vez mais estudada, chamada de PICS (Post Intensive Care Syndrome) ou síndrome pós UTI.

Existem inúmeras evidências que apontam uma piora na qualidade de vida dos pacientes sobreviventes da UTI. Vários relatos descrevem problemas psicológicos como ansiedade, depressão e distúrbios do sono, estresse pós-traumático, disfunção cognitiva, piora da função pulmonar e desenvolvimento de complicações neuromusculares periféricas que levam a uma dificuldade na mobilização do leito. Estes problemas apresentam implicações significativas aos pacientes, familiares e cuidadores impondo uma contínua carga financeira aos serviços de saúde privados e governamentais. Autores concordam que a PICS é causada por uma complexa interação entre a gravidade da doença que motivou a internação na UTI e ao tipo de suporte de vida oferecido durante a internação na UTI.

Nos últimos anos, a literatura científica tem mostrado um comportamento padrão destes pacientes, com sinais clínicos e sintomas que perduram por curtos ou longos períodos após alta, dependendo do órgão e sistema corporal mais afetado. O que se sabe é que estão envolvidos componentes funcionais, cognitivos e psicossociais. Presença de infecção, necessidade de sedação profunda, ocorrência de delirium e imobilidade por tempo prolongado parecem ser os principais fatores de risco para PICS. Dos fatores modificáveis, a prevenção do delirium através de medidas comportamentais (cuidados com o sono noturno, visitas familiares mais intensas, entre outras) parece ser um componente fundamental do processo. A utilização de sedação mais leve em pacientes sob suporte ventilatório, em que o paciente permaneça tranquilo, acordado e capaz de participar ativamente nos cuidados, ajuda a optimizar estes resultados. A PICS pode ocorrer não somente nos pacientes, mas também nos membros da família (chamado PICS-F), e pode persistir por um determinado período após a alta. Cerca de um terço dos pacientes de UTI e as suas famílias sofrem de PICS ou de PICS-F.

Todos os pacientes que foram submetidos à internação em unidades de terapia intensiva devem ser rastreados para ver se preenchem critérios para a presença da PICS. Dessa forma são conduzidos por uma equipe multidisciplinar que pode incluir médico intensivista, neuropsiquiatra, nutricionista, fisioterapeuta e Respiratório terapeuta, com o uso de intervenções farmacológicas e não-farmacológicas que devem focar na reabilitação e melhora da funcionalidade. Por outro lado, devemos pensar em quais pacientes realmente se beneficiam de uma abordagem tão invasiva como as oferecidas nas unidades de terapia intensiva. Devemos repensar como os pacientes retornam à sociedade e quais estratégias podem ser adotadas com o objetivo de restabelecer a saúde deles e dos seus familiares

 

Dr. Manoel Alves – CRM:17322

Médico com residência em Clínica Médica e Terapia Intensiva

Médico preceptor de Clínica Médica e plantonista das UTIs do Hospital Português e Hospital Esperança

Médico Clínico na Clínica Especializada Ciome Premier

 

 

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