Destaques Saúde Últimas Notícias

ENTREVISTA// Dr. Francisco Madeiro,  médico e diretor do Hospital Ermírio Coutinho fala de carreira

Por Sivaldo Venerando

Cearense de Brejo Santo e filho de um carteiro e uma doméstica, o Dr. Francisco Madeiro chegou ao Recife para prestar vestibular e, em 1977, foi aprovado em Medicina na Universidade de Pernambuco (UPE). Concluiu o curso em 1983, especializando-se em Otorrinolaringologia. No início de sua trajetória, acompanhou médicos como o Dr. Fernando Carneiro Leão, um dos que o apoiaram na especialidade.

Atualmente o Dr. Francisco é diretor do Hospital Ermírio Coutinho de Nazaré da Mata. Trata-se de um caso bem sucedido na Medicina e na carreira de executivo. Na infância, já vendeu picolé e foi marmiteiro. Hoje é um médico altamente humano.

Segue nossa conversa.

 

Início

“Quando terminei Medicina, servi às forças armadas, através da Marinha. Durante o ano de 1984, atuei como otorrino do Hospital Naval do Recife. Com o surgimento do concurso do Exército, fui aprovado na minha especialidade e segui para o Rio de Janeiro a fim de fazer Escola de Saúde do Exército. O curso durou um ano. Queria voltar para o Recife, mas tinha que ir para o Amazonas primeiro, prestar o serviço na categoria 1 Especial, para depois vir para Pernambuco. Cheguei a Itaituba, no Pará, e passei dois anos no 53 BIS (Batalhão de Infantaria de Selva). Lá, no Amazonas, as doenças são mais as tropicais. E foi uma experiência muito importante. Aprendi como se trata a malária, leishmaniose e hanseníase. Em Itaituba, tive que ser polivalente, porque tinha poucos médicos. Fui obstetra, pediatra, otorrino, oftalmologista e cirurgião.”

 

A volta

“Cheguei de volta ao Recife, sem ter sido transferido diretamente para o Hospital Geral do Exército. Fiquei no quartel e, devido a dificuldade da especialidade do otorrino no Hospital, o comandante da região me autorizou a ficar no Hospital do Recife durante dois anos, até completar o tempo à disposição do Hospital do Exército (era regra naquele tempo passar esse período). Depois fui transferido diretamente. Quando cheguei no Hospital Geral do Recife, em 1988, comecei a atuar na parte de otorrino e, em 1989, fui promovido a capitão. No ano seguinte, tive que voltar para o Rio de janeiro para fazer um curso chamado ESAO (Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais) e, retornando, fui promovido a major e sempre como otorrino do Hospital Geral do Recife.”

 

Na administração

“Depois entrei na área administrativa; divisão de medicina, chefe de ambulatório. Foram construídas três policlínicas no Hospital do Exército e eu fui o primeiro diretor de policlínica. Em seguida, assumi funções de enfermaria e chefia de plantões.”

 

Missão no Haiti

“Ao ser promovido tenente-coronel, em 2005, houve a missão do Exército no Haiti. O general me convocou para ser o Chefe de Saúde nessa missão. Eu sempre digo que, quando estamos numa missão, principalmente nas Forças Armadas, não podemos dizer um não. Eu sempre fui assim; as oportunidades eu sempre agarrei, porque meu pai e meu avô diziam: ‘meu filho, quando um cavalo passar selado na sua frente, monte nele. Não deixe de montar não, porque é difícil depois vir um cavalo selado’. Então, sempre aproveitei as oportunidades da primeira vez. Não podemos perder oportunidade. Não podemos pensar primeiramente em dinheiro, porque o dinheiro vem com seu trabalho, sua dignidade, sua maneira de ser. Fui para a missão no Haiti para passar seis meses. Devido nossa importância para a missão, o general pediu para eu renovar a minha permanência, que naquele tempo ninguém renovava. Então eu fui o primeiro oficial do Exército, em 2005/06, que renovei outra missão no Haiti. Passei 13 meses lá. Tive a visão do que é um país altamente carente, paupérrimo, e o nosso trabalho foi muito importante.”

 

Direção hospitalar

“Quando voltei do Haiti, fui promovido a coronel e já assumi a direção do Hospital do Exército. Essas minhas experiências de gestor hospitalar já vêm desde o Exército. O hospital era antigo, 200 anos. Eu, ao assumir, sabia como atuar. O foco da minha gestão foi na parte energética, a de água, de estacionamento e a parte física, ou seja, melhoria das instalações. Então, durante a minha gestão, de 2008 a 2010, fui o gestor que mais fez obras no Hospital do Exército. Por exemplo, tínhamos um problema de falta de água por não ter onde armazenar. Aí, colocamos seis caixas d’água de 20 mil litros, interligamos e pegamos a água da Compesa. Acabou o problema de água. A parte física, quando eu assumi, tinha 8 mil metros quadrados; passou a ter 20 mil, porque assumimos dois quartéis velhos que era o 4º Exército e a Região que se transformaram em hospital. Na parte energética que estava sem condições, fiz uma subestação que foi importante, porque hoje o hospital funciona graças a ela. E o outro fator era o estacionamento. O hospital foi crescendo e conseguimos, através do Exército Brasileiro, uma manobra patrimonial de um terreno para construção do edifício garagem. Hoje o Hospital do Exército tem uma estrutura física excelente. Sempre tive o pensamento de deixar um legado para a família militar, o que consegui.”

 

Nova etapa

“Depois dessa experiência em 2010, fui convidado para ir para o Rio de Janeiro. Lá chegando, vi que perderia muito tempo na minha área médica porque sempre gostei de fazer medicina. Achei que não valia a pena caminhar mais na minha profissão na área militar, porque depois de coronel iria para general de saúde. Sabia que nessa função ficaria em Brasília envolvido com muita burocracia e eu sempre gostei de ser médico. Então pedi para ir para a reserva em 2011.”

 

Hospital Ermírio Coutinho

“Quando eu cheguei em Recife, com dois meses me chamaram para dirigir o Hospital Ermírio Coutinho, em Nazaré da Mata. O hospital precisava de uma melhoria intensa. Não tinha uma estrutura física adequada e havia pouca produtividade. Tivemos que resolver tudo isso. Nos dois primeiros anos, trabalhamos para melhorar a estrutura física, parte elétrica, instalações. As enfermarias hoje são climatizadas, com televisão de LCD, pacientes e familiares têm quatro refeições por dia. A produtividade é alta. Quando assumimos eram realizados 30 partos, hoje são de 250 a 300. Eram 1.500 atendimentos mensais, hoje fazemos mais de 5 mil. Tudo isso é importante para a população. Sinto-me feliz por estar fazendo algo para o povo. Somos um hospital 100% SUS, verba federal e estadual, o que faz com que nós consigamos oferecer esse bom atendimento à população.”

 

Gratidão e ensinamento

“Considero-me um homem feliz, cuja trajetória tem sido importante. Outra coisa que me segurou muito foi a família. Sou casado há mais de 30 anos com a mesma mulher. Duas filhas: uma médica e a outra funcionária do TRT. Minha esposa é uma enfermeira especialista em Nefrologia. Usufruo de solidez familiar e na profissão e tenho muitos amigos. Sou saudável e isso faz com que Deus me dê força e coragem para administrar esse hospital. Tenho fé em Deus que tudo vai dar certo. Tenho o pensamento sempre positivo. Para os jovens de hoje, o que eu digo é: não podemos fazer uma profissão pensando em dinheiro. Você vai ganhar, mas primeiro precisa saber se gosta de ser médico. Para ser, precisa gostar de gente. Se não gostar do ser humano, não pode ser médico. Nessa profissão gasta-se tempo em ajudar pessoas. Eu, quando decidi pela carreira, pensava em ser médico não por causa do dinheiro. Você tem que ter amor à profissão. Perder hoje para ganhar amanhã. Sempre pensei nisso. Nunca fiz medicina por dinheiro. Falo isso para qualquer profissão: tem que gostar, amar e fazer com que o seu trabalho seja benéfico à sociedade. Muito importante é honestidade no profissional, o exemplo, a dedicação, a liderança, a flexibilidade. Tudo isso é i

Deixe um comentário