Educação

EREM Padre Guedes de Vicência realiza Recital de Poesia

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A Escola de Referência em Ensino Médio (EREM) Padre Guedes, localizada em Vicência, realizou na última semana de abril, seu VII Recital de Poesia, usando como tema principal o “Golpe de 64 e a instalação do Regime Militar”. A ação envolveu cerca de 30 alunos do ensino médio.

A música “Cálice” de Chico Buarque e Gilberto Gil inspirou o título do recital marcando a abertura do evento. Na sequência, os alunos deram um verdadeiro show de arte e literatura, despertando na plateia a sensação de revisitar os porões da ditadura a partir da declamação dos poemas “Choque, Afogamento, Pau-de-arara e Luz”, frutos dos pesadelos noturnos do paraense Paulo César Fonteles e de seu confronto direto com a dor.

“Foi um momento mágico, emoção, e aprendizado, juntos. Nosso projeto já nos trouxe muitas alegrias”, relata a coordenadora da biblioteca, Mércia Borba e uma das responsáveis pelo evento, junto com a professora Lucilene Jerônimo com o apoio da Gestora Ivânia Figueiredo.

Mércia destacou opoeta que se refugiou na poesia para enganar a solidão do cárcere, como o amazonense,Thiago de Mello, cujas paredes da masmorra ele definiu, nos primeiros versos de “Iniciação do cárcere” como o prêmio que recebeu por amor a liberdade.  “Foram declamados poemas como A liberdade em repressão, O Operário da utopia e Velhos tempos, cujos versos sombrios marcados por palavras como ‘sangue’, ‘morte’ e ‘luta’ reforçaram o terrorismo cultural predominante no período ditatorial”, ressaltou.

Além dos poemas trágicos, também fizeram parte do repertório, poemas nostálgicos fruto da saudade que acometia os exilados os quais eram obrigados a “amar ou deixar o país”, a exemplo de Caetano Veloso, homenageado pelo pernambucano Paulo Diniz com a composição “Eu quero voltar pra Bahia”. Ainda sobre Caetano, destaque para a letra da música “Como dois e dois”, a qual foi gravada por Roberto Carlos, uma vez que o compositor estava exilado e proibido de gravar no Brasil, conforme declara os versos “Tudo vai mal, tudo/ Tudo é igual /Quando eu canto e sou mudo”.

Dentre os compositores que confrontaram a ditadura, Chico Buarque teve grande destaque, adotando uma linguagem alegórica e até pseudônimo a fim de driblar a crítica e evitar a censura. Na música “João e Maria”, Chico simula uma fantasia infantil onde “João” é o herói, o bedel e o juiz e pela sua lei “a gente era obrigado a ser feliz.”

Na música “A banda”, o mesmo retrata uma sobreposição de esperança e desalento em relação à “gente sofrida” que “despediu-se da dor, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor.” Enfim, de forma mais ousada, Chico anuncia o porvir, zombando sutilmente da ditadura: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”.

A poesia trouxe vitórias para a aluna do 3º ano, Luana Karla de Moura de 16 anos, que começou a recitar poemas aos 10 anos e não parou mais. Na 5ª série surgiu a vontade de participar do projeto, era uma forma de fazer o que tanto amava, porém, por um distúrbio na voz, foi impedida. Luana procurou ajuda médica e insistiu em seu sonho e hoje tem a poesia como uma grande aliada em sua recuperação. “A poesia e a fonoaudióloga andam de mãos dadas, foi através da vontade de recitar que busquei tratamento, no início foi complicado, mas hoje respiro poesia e não tenho mais problemas com a voz. O Projeto pra mim é minha paixão”, declara Luana, que este ano recitou o poema “Pesadelo” de Maurício Tapajós.

O projeto trabalhou de forma interdisciplinar, envolvendo professores de língua portuguesa, história, filosofia, sociologia, arte e educação física, que trabalharam em sala de aula com reescrita de músicas e textos poéticos através de paródias, cartas, artigos, desenhos; confecção de painel literário (Retalhos da Ditadura Militar no Brasil); café filosófico; dramatização e resgate histórico. “Trabalhamos em sala de aula junto com todos os professores o contexto histórico do nosso tema, assim os alunos podem entender sobre o assunto antes de viver o momento da culminância”, relata Mércia.

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