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Estudante de Vitória leu 173 livros em pouco mais de um ano

Ranyely dos Santos Silva deseja ter uma biblioteca quando crescer. Quer ser proprietária de um espaço repleto de livros. Para ela e para os outros. Para matar a vontade de ler e ainda emprestar exemplares a outras pessoas. Aos 12 anos, a adolescente miúda e tímida, moradora da periferia de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata pernambucana, coleciona histórias. Em pouco mais de um ano – de fevereiro do ano passado até agora – seu nome aparece anotado 173 vezes na lista de empréstimos da biblioteca da Escola Estadual Guiomar Krause, onde estuda o 7º ano do ensino fundamental, no bairro de Jardim Ipiranga. Significa que durante este período a garota passou boa parte do tempo livre, em casa ou no colégio, entretida com 173 narrativas que a fizeram viajar em outros mundos, reais ou imaginários.

No País, segundo a 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada em 2015, a média de leitura anual é de 4,96 livros por habitante. No Nordeste é ainda menor, 3,93 livros. “Gosto de ler contos de fadas, poesias, livros de teatro, quadrinhos. Me sinto participante da aventura quando estou lendo, aprendo mais, me ajuda a escrever direitinho. Gosto de ler todo tipo de livro. Mas se a história não é boa, eu deixo de lado”, conta Ranyely. De todos que pegou na biblioteca da escola até agora, só lembra de um que devolveu sem ter concluído. “Era um guia para as famílias. A história ficou chata, começou a falar sobre drogas. Não quis mais continuar. Desisti”, afirma a adolescente.

Atualmente, carrega na mochila os livros Os 10 amigos, do escritor e cartunista Ziraldo, e O Almanaque, de Ruth Rocha. “Esse almanaque é bem legal, tem brincadeiras, músicas. Estou me divertindo”, assegura a menina. Recentemente leu um clássico da literatura brasileira, Dom Casmurro, de Machado de Assis, numa versão em quadrinhos, voltada para o público infantil. O primeiro título que a encantou, quando ainda nem sabia ler, foi O Pequeno Polegar, de Charles Perrault. “Eu queria ler, mas não conhecia as letras, só via as figuras. Depois li e gostei”, revela a menina, fã dos personagens da Turma da Mônica e do Sítio do Pica Pau Amarelo.

É sobretudo no horário do recreio que a garota vai para a biblioteca da escola. Quando tem aula vaga, pode procurar que é lá também que Ranyely está. Até nas férias visita o espaço. Diz que gosta de brincar, mas não resiste a um bom livro. Em casa, ajuda a mãe, Josefa da Silva Santos, 29, nas tarefas de limpar e organizar o ambiente. “Depois que eu faço o serviço em casa, corro para ler. Vou pra minha cama e fico lá um tempão lendo”, explica Ranyely, que tem uma irmã mais nova, Rayres, 8. Elas dividem o quarto com a filha do padrasto.

LIXO
O acervo particular da adolescente ainda é pequeno. Ela mostra livros que ganhou de presente ou que encontrou no lixo. Não gosta de identificar exemplares desprezados nas ruas. “Fico triste porque o povo joga livro no lixo. Tem uns bonzinhos e outros sem capa, sujos ou rasgados. Tiro e levo pra casa, ajeito e leio. Às vezes leio para minha irmã, mas ela gosta mesmo é de mexer no tablet”, confidencia Ranyely.

A mãe da jovem fica orgulhosa com o desempenho da primogênita e torce que ela seja exemplo para a filha caçula. “Até quando a coloco de castigo ela vai ler. Acho ótimo esse interesse de Ranyely pelos livros. Casei aos 12 anos, o pai delas não me deixou mais estudar. Sei ler um pouco, mas não escrevo. Meu sonho é escrever uma carta para meu atual marido e minhas filhas”, diz Josefa, que só uma vez comprou uma revistinha com histórias bíblicas para Ranyely.

“Quero ser dona de uma biblioteca ou trabalhar como bibliotecária. Tenho vontade também de ser professora, acho bom ensinar a ler e escrever”, assegura a jovem devoradora de livros, já de olho nos novos títulos que a biblioteca da escola acabou de receber.

*Jornal do Commercio

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