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Frei Caneca, o Mártir da Liberdade, vive em sua 6ª geração

Paulo Fernando Ferreira 

Poeta, historiador, cientista, político , gramático, latinista, filósofo, jornalista e poeta, nasceu no Recife em 1779. Ele tinha profundo conhecimento de mitologia, astronomia, das ciências naturais, polemista e jornalista com atende. Grande escritor, também cultivava a poesia. Editou o jornal Typhis Pernambucano, alicerce de sua política de combate a autocracia de Dom Pedro I. O Tiphis foi , na verdade, o primeiro jornal da América Latina. Grande erudito, escreveu cartas, sermões, poemas, obras didáticas e discursos políticos. Uma das personalidades mais marcantes da tradição revolucionária pernambucana.

Joaquim do Amor Divino Caneca, ou Frei Caneca, foi morto por fuzilamento em 1825. O maior erudito de seu tempo, no Brasil, foi condenado à morte por envolvimento nas revoluções de 1817 e na Confederação do Equador (1824). Apesar de ser religioso, pertencia à 0rdem dos Carmelitas, era pai de três filhas: “Aninha, Joaninha e Carlota”, confirmado por todos os seus biógrafos e historiadores. Sua memória é esquecida, ou pouco lembrada pelo poder público, pela sociedade e até a própria Igreja. Mas as três filhas deram formação à novas gerações do frade pernambucano. Conforme se diz: “O homem se perpetua na Terra através de sua descendência”; deste modo Frei Caneca será eterno.    

Investigação jornalística do Voz do Planalto revela a existência de antiga e nova  linhagem  do Mártir da Liberdade. Dentre seus descendentes, conversamos com Cláudio Antônio Caneca Sobreira, de 73 anos de idade, residente em Goiânia, estado de Goiás. De acordo com Cláudio, “há centenas de descendentes, entre antigos e atuais, de Frei Caneca. Eles “nasceram inicialmente no Recife, nos bairros de Santo Antônio, São José e Boa Vista (o Recife original). Com o desenvolvimento do Recife, muitos migraram para outros bairros, cidades, estados e exterior”. Cláudio, inclusive, mantém contato com diversos parentes espalhados por Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e França.  

O sobrenome “Caneca” foi adotado pelo próprio frade, quando ingressou na ordem do Carmo, no Recife, em homenagem a seu pai, Domingos da Silva Rabelo, que fabricava canecas, pipas e barris. O sobrenome permanece em muitos descendentes. “Mesmo assim, mulheres ao se casarem adotam o sobrenome do marido, esquecendo da importância do seu sobrenome” (Cláudio reclama…). É o caso de suas três irmãs, Marlene, Lígia e Maria da Glória, que casaram com estrangeiros. Há dezenas de parentes de Claúdio que moram no Recife e em Olinda. Sempre que ele vem ao Recife faz encontros com familiares.  

Frei Caneca e seu pai tinham cabelos ruivos, segundo os historiadores. Cláudio percebeu essa particularidade em alguns parentes e na família: “Quando eu era jovem tinha o cabelo loiro, tipo espiga de milho, minha irmã Lígia tinha o cabelo completamente ruivo”. 

Ele iniciou seus primeiros estudos no Grupo Escolar Professor Joaquim Olavo e Colégio Pio X, em Carpina, na Mata Norte pernambucana, onde a família morou. Formou-se em contabilidade no Colégio Porto Carrero, no Recife. No período de estudante, destacou-se como atleta, e coleciona medalhas em ping-pong, xadrez, natação e voleibol (foi jogador juvenil do Sport Recife, em 1967). Trabalhou no comércio, bancos, indústrias e consultorias administrativas, efetivou-se como administrador no governo do estado de Tocantins. É bacharel em Comunicação Social e administração pela UFPE. Tem pós-graduação em O&M. Ele também é músico desde a década de 70 , quando atuou nas bandas de rock Os Lobos, Os Éferos  e Veiétu.  Em 2009 a 2018 participou de bandas em Palmas, Tocantins. 

Cláudio é, da linhagem de Frei Caneca, aquele que mais se preocupa em manter viva a chama da memória do ilustre personagem da História do Brasil. Assim, desde 1975 vem procurando reunir e catalogar material que trata da memória da família e do tetra-avô, como fotografias e informações históricas. Todos os seus parentes sabem que são descendentes de Frei Caneca, “mas poucos têm noção de sua dimensão! “Pena que esse sobrenome histórico vai sumindo com as mulheres ao se casarem e não colocam tal sobrenome nos seus filhos e, por último, com a morte de vários familiares.”, diz.   Cláudio Antônio é pai de um filho, Samuel, e duas filhas Danielle e Cibele Sobreira Caneca. Ele fez “questão de colocar tão honroso sobrenome em meus filhos com a certeza de perpetuá-lo”.Entre seus irmãos, apenas o filho mais novo de Lígia foi registrado com o “Caneca”(Carlos Augusto Litwin Caneca). Todos os antigos parentes de Cláudio, como avós, tios, irmãos e sobrinhos tinham esse sobrenome.

Anualmente, no dia 13 de Janeiro, a Prefeitura do Recife, órgãos culturais e outras entidades, como a maçonaria (Frei Caneca também era maçon) prestam homenagens em ato cívico ao herói pernambucano. Cláudio e alguns parentes são convidados e homenageados nesses eventos. Uma de suas tias, Maria José, chegou a escrever um livro sobre Frei Caneca.  

Claúdio Caneca

Cláudio é da quarta geração do ilustre pernambucano e cresceu ouvindo histórias de seu tetra-avó, de sua sapiência, coragem e grandeza. Sonha em escrever um livro para narrar a saga do grande herói brasileiro. Para isso reuniu material e faz pesquisas há muitos anos em igrejas do Recife, cartórios, bibliotecas, arquivo público e em revistas, livros e jornais antigos recolhendo dados para produzir mais uma obra sobre Frei Caneca. Pretende lançar em janeiro de 2025, quando se completa 200 anos da morte do frade e revolucionário, o que muito contribuirá com a história de Pernambuco e do Brasil. Segundo o autor, o livro “revolucionará o assunto, pois conta fatos inéditos e foco na família”, disse. 

Sobre o descaso do estado com tal importante personagem de nossa História (poucos são os monumentos que fazem homenagem a Frei Caneca), apenas lamenta. “A figura de Frei Caneca é mais importante na  

História do Brasil do que a de Tiradentes, aliás, da República é o mais ilustre defensor”, comenta. Essa consideração é a mesma do historiador carpinense Rodrigo Sávio de Andrade: “ A participação de Frei Caneca na história nacional é de maior relevância do que a do mineiro Tiradentes. O revolucionário e religioso pernambucano enfrentou dois movimentos separatistas e participou ativamente, como capelão e líder revolucionário. A Inconfidência Mineira foi apenas um movimento conspiratório”. 

O tetraneto do maior herói nacional vê, hoje, que a luta de Frei Caneca continua: “O combate para defender a liberdade, contra a corrupção e a injustiça social.” 

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