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Júri dos acusados de matar Jota Cândido é adiado para dezembro

G1/PE – Foi novamente adiado o julgamento dos quatro acusados de matar o vereador e radialista Jota Cândido, executado há dez anos em Carpina, na Zona da Mata Norte de Pernambuco. O júri estava marcado para esta quinta-feira (29) no Recife, mas foi remarcado para o dia 16 de dezembro. Esta foi a quinta vez que a sessão foi adiada.

Esta foi a primeira vez em que o adiamento foi solicitado pela a defesa dos acusados — três policiais militares e um motorista. Os advogados dos réus cobraram diligências em operadoras de telefonia para reforçar as provas que seriam apresentadas pela acusação e provocaram o adiamento anterior. O juiz acatou o pedido, afirmando que “em um júri, a defesa não é só ampla, é plena”. “Isso foi considerado importante para o esclarecimento e a prova do processo”, acrescentou o juiz do Jorge Luiz de Santos Henriques.

Segundo a promotoria, registros telefônicos indicam a participação dos réus no crime, mostrando que eles conversaram intensamente nos minutos que antecederam o homicídio e estiveram no local em que o radialista foi morto. Em junho, no entanto, a acusação afirmou que essas provas haviam sumido do processo e solicitou que o júri fosse adiado.

Nesta quinta, o Ministério Público revelou que essas provas ainda não foram encontradas. Mesmo assim, disse que estava pronto para dar andamento ao júri. “Mais de 600 folhas desaparecem. Era uma prova importantíssima, mas conseguimos resgatar fragmentos desta prova que dão condições de fazer o júri, mostrar o que as provas mostravam e demonstrar que esses documentos realmente existiram”, alegou o promotor Ricardo Brainer no início do julgamento.

A defesa, que sempre afirmou que essas provas não existiam e que apenas xerox haviam sido apresentadas pela acusação, achou estranha essa atitude e decidiu pedir o adiamento para investigar esses documentos. “Os julgamentos anteriores não aconteceram exclusivamente por pedido do Ministério Público, no sentido de que as operadoras apresentassem as provas que informam o local onde os acusados estariam no momento do crime. Estranhamente, no dia de hoje, embora as operadoras não tenham atendido a esse pedido, o Ministério Público desistiu desse requerimento”, explicou José Siqueira, advogado de um dos réus.

“Iinteressa à defesa que tal informação chegue aos autos. Por esse motivo, pela falta de atendimento de um requerimento que o Ministério Público vinha insistindo e estranhamente desistiu, a defesa manifestou no sentido de que fosse cumprida a diligência. Sem essa diligência, a gente não tem como ser preciso no tocante a onde estavam os acusados no momento em que o fato aconteceu”, acrescentou Siqueira.

Diante da argumentação, o Ministério Público disse que acatava o pedido, mesmo já tendo provas suficientes para mostrar o envolvimento dos réus no crime. Na sessão, o promotor Ricardo Brainer disse que não ia se opor para que, depois, a defesa não alegasse cerceamento de defesa. “Os pedidos anteriores partiram da da acusação, mas a defesa agora insiste dizendo que é indispensável que essas informações das operadoras de telefonia cheguem ao processo. Não tenho nenhuma dificuldade que ela venha, gostaria muito que elas viessem, mas estava em condição de realizar o julgamentro hoje com as cópias que conseguimos”, acrescentou o promotor.

Já a família de Jota Cândido foi pega de surpresa com o novo adiamento. “Eu tinha certeza que hoje ocorreria o julgamento. Um vereador atuante e um radialista como Jota não poder ser morto e ficar impune por dez anos. Mas nós não vamos desistir. Quero a condenação dos réus e dos mandantes”, falou a filha Karoline Cândido, pedindo para que as empresas de telefonia atendessem ao pedido e, assim, viabilizassem o julgamento.

Mandantes
Mesmo com a promotoria afirmando que o processo comprova o envolvimento dos réus na execução de Jota Cândido, a defesa dos quatro acusados defende a insuficiência de provas. Antes da sessão desta quinta, os advogados falaram que os registros das operadoras não indicam a participação dos acusados e, por isso, pediriam a negativa de autoria.

“Em primeiro lugar, não são escutas telefônicas; são sinais de onde estavam os telefones em determinada hora e local. E esses documentos não estavam sumidos. Não há relato, nos autos, dos documentos autênticos. Sempre foram utilizadas xerox e agora estão em busca dos autênticos”, alega a defensora pública Janice Basílio, que defende os policiais militares Edilson Soares Rodrigues eTairone César da Silva.

“Colocaram quatro pesssoas no banco dos réus que não têm nada haver com o crime, mas até agora os mandantes não apareceram”, reclama Janice, lembrando que o próprio inquérito indica que os réus foram os executores do crime e não os mandantes. “Só que não há nomes nem suspeitos”, diz.

A filha de Jota Cândido espera que réus sejam condenados e mandantes do crime, descobertos (Foto: Wagner Sarmento/ TV Globo)

Encontrar esses mandantes também é interesse do Ministério Público e da família de Jota Cândido. Segundo o promotor Ricardo Brainer, há indícios do nome dos mandantes nos autos. Por isso, as investigações devem continuar. “Há diversos depoimentos, inclusive o de uma pessoa que foi assassinada depois do crime e contou toda a trama, até quem poderia ter contratado esses réus. Eu não tenho dúvida de que essas pessoas foram contratadas por pessoas ligadas à administração píblica de Carpina. Quais eram essas pessoas na época, a policia vai ficar devendo a nós”, afirmou.

Para Karoline Cândido, filha do radialista, a não identificação dos mandantes pode ter motivação política. “Isso incomoda a família e é muito suspeito. Toda a sociedade carpinense sabe que esse foi um crime político. Jota Cândido era vereador atuante e era contra a gestão da época”, diz a filha do radialista, contando que ele foi morto depois de apresentar um projeto de lei contra o nepotismo. A esperança da família é que, com a condenação dos réus, esses mandantes apareçam. “Eles não vão aguentar responder por esse crime sozinho”, torce a filha do radialista, que foi ao julgamento vestindo uma camisa com a foto do pai.

Entenda o caso
Jota Cândido foi morto no momento em que chegava para o trabalho, em uma rádio da cidade de Carpina, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, em 1º de julho de 2005. Ele levou vinte tiros ainda dentro do carro, por volta das 6h30. Antes disso, o radialista já havia escapado de outro atentado.

O crime chocou a sociedade local e, segundo a polícia, teve motivação política. O radialista denunciava problemas da prefeitura de Carpina na rádio. Dias antes de ser executado, também havia apresentado, na Câmara de Vereadores, um projeto de lei contra o nepotismo.

Dias depois do homicídio, a polícia chegou a prender os quatro réus deste julgamento. Foram indiciados pelo crime os policiais militares Edilson Soares Rodrigues, Tairone César da Silva Pereira e André Luiz de Carvalho e o motorista Jorge José da Silva. Todos eles, no entanto, foram liberados e até hoje aguardam o júri em liberdade.

De acordo com a justiça, os réus teriam recebido dinheiro para matar o radialista e, para cometer o homicídio, usaram de meio que impossibilitou a defesa da vítima. Por isso, são acusados de homicídio qualificado e podem pegar uma pena de até 30 anos de reclusão.

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