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Mães de anjo: conheça a iniciativa de voluntárias que buscam superar a perca de seus filhos, a partir do amor  

Unidas pela dor e restauradas pelo amor. Com este sentimento, a carpinense Maria da Soledade Coutinho reuniu mães que enfrentam a perca de seus filhos vítimas de câncer e criou o grupo Mães de anjo. Residente no Loteamento Três Marias, em Carpina, ela conta os detalhes dos quatro anos que passou durante o tratamento da filha, Emilly Emanuela Coutinho Pereira. O diagnóstico de um câncer maligno no rosto surpreendeu a família. Maria da Soledade precisou ainda ser mais forte para suportar a separação de um casamento de cinco anos e ao mesmo tempo acompanhar a filha no tratamento. Com um ano e oito meses, a pequena Emilly recebeu os primeiros cuidados médicos no Instituo Materno Infantil de Pernambuco (IMIP). Durante esse período, a mãe contou ainda com o apoio da casa de abrigo do Núcleo de Apoio à Criança com Câncer (NACC).

A rotina de quimioterapias, exames e a cirurgia era intermediada com a acolhida e visita de voluntários que sempre estavam presentes e auxiliando de alguma forma. “Uma das coisas que me motivou hoje para que eu me tornasse voluntária é porque um dia alguém foi voluntário em minha vida. Isso soma. Se você fez o bem, pode acreditar que um dia aquela pessoa que recebeu o bem também vai fazer o mesmo”, afirma.  No dia 03 de fevereiro de 2016, Maria da Soledade viveu o momento mais difícil desses últimos quatro anos, quando sua filha faleceu.

Vivendo uma vida de constante oração e leitura da bíblia, ela encontrou em Deus forças para continuar.  “Temos que transformar a dor em amor. A dor, ela nunca vai passar. Para sempre eu vou conviver com a saudade que a minha filha me faz, mas você precisa fazer alguma coisa com a sua história de vida”, ressalta. Após esse caminho de orações e diálogo com Deus, ela resolveu criar o Mães de anjo. Inicialmente, formou um grupo de WhatsApp com sete participantes que faziam parte de seu convívio na rotina hospitalar. As trocas de mensagens de incentivo motivaram ainda mais Maria da Soledade a formalizar um grupo de voluntárias.

Logo elas conseguiram as doações e retornaram no dia 27 de março de 2016 ao IMIP e ao NACC para fazer a primeira visita com quatro integrantes do projeto e oferecer amor para aquelas mães e crianças.  “Eu voltei naquela via dolorosa, naqueles mesmos lugares que eu passei com a minha filha, mas nada daquilo me abalava. Uma força maior me impulsionava a abraçar, a beijar, a falar com aquelas mães. Eu compreendi que, quando a gente volta, estamos glorificando a Deus, louvando e trazendo alegria. Eu acredito que a enfermidade não vem do Senhor, mas, pelo contrário, porque após essa vida só temos uma vida eterna porque Ele nos concede”, explica.

A ideia para a formalização do grupo, todos os detalhes quanto à padronização das voluntárias, as lembranças, enfim, foram orientadas através de orações e do direcionamento de Deus, explica Soledade. A logomarca é formada por corações que representam cada mãe, e um maior que significa todas em um só coração. Ela explica ainda que a escolha do lema “unidas pela dor porque nos tornamos uma família. Restauradas pelo amor porque a cada dia Deus está restaurando nossos corações feridos e machucados. A cor rosa usada na blusa é a cor preferida da minha filha”, conta.

Com a participação de outros voluntários, ela desenvolveu uma nova identificação para aquelas que não são mães de anjo. Através de uma camiseta branca com uma logomarca com mãos formando um coração e a frase “O amor nos alcançou”, fazem referência ao sentimento que as mães tinham pelos filhos, demonstrado em cada gesto de carinho e que acabou impulsionando outras pessoas a também se interessarem pelo trabalho.

Com o resultado obtido, elas fazem cinco visitas anualmente. Há dois anos elas realizam festinhas alusivas ao Carnaval, Páscoa, São João, Dia das Crianças e Natal. Além do amor, que é imprescindível, elas doam sacolinhas com doces, toalhas, sabonetes, cadernos de desenhos, lápis de cor, copos, etc. “Hoje eu sei as necessidades, porque eu passei. Quando eu vou levar as lembranças, eu levo o que realmente é necessário para estar ali no dia a dia”.

Para conseguir os recursos e manter as doações, Soledade juntamente com os voluntários realizam bazar, vendem trufas, copos personalizados, rifas, entre outros. Recebem donativos e confeccionarem as lembranças sempre com materiais descartáveis e muita criatividade.

O resultado é perceptível com as histórias de vidas que têm sido transformadas. Muitas mães de anjo que têm se engajado na equipe estão conseguindo superar a dor através do amor. Os voluntários também ao retornarem das visitas compartilham suas experiências e relatam que se tornaram pessoas diferentes a partir desse trabalho. Hoje o grupo de visitantes de voluntários é composto por 15 integrantes fixos. Os momentos vivenciados, os sentimentos e as experiências ficam registrados em uma ata do grupo.

A próxima visita é para realizar uma comemoração da Páscoa no dia 15 de abril. Elas estão sempre animadas e motivadas para cada visita. Para que tudo seja único e especial, as voluntárias se organizam e cuidam minuciosamente de cada detalhe. Para finalizar, Soledade expressa que “sinto que o propósito do grupo é para edificar vidas. Palavras comovem, mas o testemunho é mais forte. Você precisa de alguém que está ali diante dos seus olhos que passou e que teve fé para suportar. Essa força interior que tenho hoje é de Deus. Sempre me dediquei muito à leitura da bíblia e Deus sempre me consolou. Ele sempre esteve comigo. Eu cresci muito espiritualmente. Se você não recorrer a Ele você não consegue, mas quando recorre a Deus você tem certeza de que Ele está ao seu lado”.

Hoje, para esbanjar um sorriso e contar com tanto entusiasmo o que já conseguiram realizar, Maria da Soledade atribui a Deus. “Todo o sofrimento que eu vivi com a minha filha não foi em vão porque vidas estão sendo edificadas para Deus. Cada dia cresce ainda mais o desejo de continuar”, conclui.  O grupo Mães de anjo só tem crescido e o mais gratificante de tudo é o objetivo estar sendo alcançado. A cada dia outras vidas estão sendo alcançadas e restauradas pelo amor.

*Matéria publicada na edição de Março de 2018 do Jornal Voz do Planalto

 

 

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