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Mercado Público de Carpina completa 100 anos

Além de ponto de encontro e de compras, o mercado também oferece história e cultura

 

Paulo Ferreira

Domingo, 11 de novembro de 1917, dia de São Martiniano, as emissoras de rádio noticiavam os horrores da 1ª Guerra Mundial. As manchetes dos jornais comentavam sobre as aparições de Nossa Senhora em Fátima, Portugal. Na Rússia, surgia o comunismo. E no Brasil, o presidente Venceslau Brás, que declarara guerra ao Império Alemão e a seus aliados, recebia informações sobre as ações da Marinha brasileira no conflito mundial.

O governador de Pernambuco, o timbaubense Manuel Borba, no Recife, já se preocupava com os relatos das façanhas criminosas de certo Lampião e seu bando, no Sertão. Era o começo do cangaceirismo. Em Floresta dos Leões, distrito de Paudalho, o prefeito do município, João Cavalcanti de Petribu, inaugurava o mercado público do povoado. O padre Artur Carneiro Beltrão, vigário de Paudalho, foi quem realizou a bênção de inauguração.

Passados 100 anos, Carpina, antes Floresta dos Leões, sabe da grande importância que o mercado tem para a cidade, pois promoveu o seu desenvolvimento. O mercado é um patrimônio histórico, cultural e um marco do desenvolvimento do município. Nesses anos, o mercado foi, e continua sendo de enorme significância no cotidiano da população.

Ele ainda conserva a sua arquitetura original, em estilo neoclássico, e foi uma das primeiras edificações de Floresta dos Leões. Há 100 anos vem funcionando sem interrupção, a não ser para reformas. Concentra os mais variados produtos: cereais, verduras e frutas, carnes, peixes, ervas, utensílios domésticos, peças de artesanato, artigos de umbanda, importados. Mais de 600 famílias de comerciantes sobrevivem do trabalho no mercado. Ele é uma referência no comércio de Carpina. Tem cerca 102 boxes na área térrea e 54 no primeiro andar. Ainda reúne lanchonetes, bares, lojinhas, oficinas de consertos em geral, entre outras atividades.

Manuel Lourenço da Silva, 72 anos, o mais antigo comerciante do mercado, trabalha há mais de meio século no local. “Comecei em 63, vendendo farinha, em substituição a meu pai que falecera”. O mercado não tinha cobertura completa: “trabalhávamos na lama, mas vendíamos tudo, pois não havia supermercado”, disse. Hoje ele tem um box com vários tipos de gêneros alimentícios (a farinha é o “carro-chefe”, tem de todo tipo).

O aspecto histórico e social do centenário mercado faz parte da identidade cultural da cidade. É um revelador de hábitos, de costumes e da própria natureza dos carpinenses. Faz parte da paisagem urbana e social da cidade. A vida fervilha nele e nos seus arredores, com a presença de comerciantes, clientes, tipos populares, taxistas, carregadores de feira, mototaxistas e ambulantes. É promotor da cultura popular e uma atração turística de Carpina. De acordo com alguns comerciantes, a tradição oral diz que o terreno para a construção do mercado foi doado pela Usina Petribu. Antônio Carlos Filho, vendedor de peixes, contou que “várias pessoas jogam no bicho a milhar da fundação (1917), e muita gente já ganhou um bom dinheiro na milhar que dá sorte”.

A gastronomia é também um elemento integrante de sua composição cultural. Nos bares é possível saborear a boa comida caseira, que revela a culinária local: buchada, sarapatel, galinha à cabidela, feijão verde ou de corda, carne de sol, de bode, macaxeira com charque, cozido, pamonha, tapioca, farofa, cuscuz com carne, munguzá, bolo de rolo e de mandioca.

Reverências – Em 100 anos de funcionamento, não há como mensurar a quantidade de clientes e histórias que marcam o mercado de Carpina. Como na música, parece que vende de tudo. Percebe-se que a relação afetiva dos comerciantes e da população com o mercado é muito forte. Se não compram, pesquisam, contemplam, conversam com os amigos, fazem amigos. Quinca dos Carimhos, outro comerciante local, afirmou: “aqui é possível encontrar qualquer tipo de peças para aparelhos quebrados”. Tudo pelo puro prazer da convivência. O charmoso mercado é um lugar onde as pessoas dos quatro cantos da cidade se encontram. Em um tempo de falta de diálogo, sobra conversa no imponente mercado. Ele também tem usuários de outros municípios. É testemunha da História, de um passado de glória. O espaço democrático merece nossa reverência.

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