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Microcefalia inspira história de livro

A história de ficção é a seguinte: uma princesa está prestes a completar 12 anos e, por isso, deve ganhar a tão esperada coroa durante uma cerimônia no reino. Mas, por ter nascido com microcefalia (cabeça menor do que o normal), o objeto valioso não serve nela. A partir desse enredo no livro “A coroa da princesa sonhadora”, o escritor Edu Pereira discute um assunto ainda tão “novo” para a população: a microcefalia, principalmente causada pelo surto do zika vírus no fim de 2015.

Não é só esse assunto que é abordado no livro: o autor também aproveita para falar da inclusão de uma forma geral. Outras princesas que estão na cerimônia de coroação, por exemplo, apresentam outras diferenças no corpo. O objetivo, segundo Edu, é justamente esse, falar de diferenças, de quem não se encaixa em um padrão imposto pela sociedade.

“A ideia central é quebrar o padrão de princesas que são todas iguais e isso vem na imagem da coroa, um objeto tão tradicional”, explicou, em entrevista ao Portal da Band. O fato de ser um livro infantil é para que as crianças aprendam desde já a lidar com um assunto tão importante.  Apaixonado por esse universo, Edu acredita que pode contribuir com o mundo a partir dos seus projetos. “A gente precisa viver outras histórias, tentar entrar em uma cabeça que não seja a sua e experimentar outras realidades. Devemos estar atentos ao mundo o tempo todo”.

Além de escrever livros, o artista também se reúne com crianças e adolescentes em escolas do Rio, onde, além de debater o recente livro, ele também canta com ajuda dos alunos.

“É muito importante o tanto que esse projeto está sendo abraçado pelas famílias com filhos (as) com microcefalia, principalmente porque as enxergou. Ouvi de muitas mães que estava faltando algo assim”, contou.

“Microcefaquê?”

Em um momento do livro, a princesa Vitória não consegue falar a palavra “microcefalia”.Para Edu, é uma palavra difícil e é essencial que todo mundo entenda. “Daqui a pouco, todas as crianças da ‘geração zika’ vão entrar nas escolas. Então é importante que as crianças enxerguem as diferenças”, disse.

O escritor explica que foi uma decisão “aleatória” escolher o tema, pois poderia ser “qualquer deficiência” para tratar de temas de inclusão. Mas, na época em que decidiu escrever a obra, o Brasil passava pela epidemia do zika vírus, atrelada com os casos de microcefalia na sequência.

“Minha mulher estava grávida na época. A gente chegava aos lugares e os amigos ‘expulsavam’ a gente dos locais,principalmente se tinha foco de mosquitos. Ficou um ‘trauma'”, disse o escritor que é morador do Rio de Janeiro, uma das regiões que mais sofre com a epidemia do mosquito Aedes aegypti durante o verão.

Vida fora dos “reinos”

Apesar de ser uma ficção, os problemas são reais. O preconceito é só um deles.Perguntas frequentes como “microcefalia é infectuosa?”, “meu filho pode pegar microcefalia?”  ou “seu filho é um monstro” ainda são comuns, segundo relato de parentes.

A história a seguir não é mais ficção, por mais que a “princesa” tenha o nome muito semelhante à dos livros. Graziella Vitória da Silva, de dois anos, também tem microcefalia, causada pelo zika vírus. Ela é uma das crianças afetadas pelo surto do mosquito no Estado de Pernambuco. Grazi mora no bairro Alto José Bonifácio, em Recife.

A mãe dela, Inabela Souza da Silva, conheceu o trabalho de Edu pela internet, nas redes sociais, onde acompanha os projetos do artista. Quando soube do lançamento do livro, logo gravou um vídeo pra ele, dando apoio na divulgação. “É um trabalho muito lindo. Queria que ele fizesse aqui também”, disse.

Logo depois de receber 50 livros do escritor, Inabela teve uma ideia: fazer a festa de dois anos da filha com a temática do livro. “Tive que fazer tudo, vestido e decoração. Pedi ajuda da família e outros amigos também. O vestido era muito detalhado, então complicou um pouco”, explicou.

De acordo ela, Grazi ficou internada dois dias antes da comemoração, mas nem isso foi capaz de desanimar a família, que chegou a passar uma noite sem dormir para deixar tudo perfeito para a garota.

No dia da festa, deu tudo certo: “Foi muito lindo. A Grazi ficou animada e gostou muito da festa. Ela tirou várias fotos sorrindo e brincando”.

Livro traz debate sobre diferençasO conto de fadas na vida de Grazi fica um pouco de lado quando se trata da realidade em que vive. Segundo Inabela, a  situação é muito difícil. “Sofremos muito pelo preconceito e pelo descaso público. Fazemos reuniões com os órgãos e muitas mães ainda não recebem os benefícios da criança com deficiência. Às vezes fazemos cota para arrecadar dinheiro para elas”, lamentou.

Além do problema de saúde, algumas família sofrem com o preconceito ainda muito presente. “Minha filha mais velha, de 12 anos, já sofreu isso na escola, com uma colega dizendo que microcefalia pega. Ela voltou chorando”, conta. “Fui à escola com a Grazi no braço mostrando que microcefalia não é contagiosa”.

Apesar de todas as dificuldades citadas acima, Inabela fica feliz por ter esse tipo de projeto em andamento. “A princesa tem microcefalia e o pai dela é um rei, ou seja, ela é de uma família rica.Você já vê a inclusão aí. Acho interessante levar esse assunto para outros lugares”, fala.

FINAL FELIZ

“Qualquer menina pode ser uma princesa, se ela quiser”, diz a garota do livro. E com essa ideia, a princesa desiste da coroa e coloca uma flor no lugar”. A menina ainda dá a ideia de dividir o valor da coroa entre todos do reino, reformando a casa dos moradores mais pobres. “Ela é uma princesa solitária, com mais amigos depois da mudança do reino. A mensagem é que, sem eles, não vale a pena”, explicou Edu. O livro pode ser acessado neste link http://www.youblisher.com/p/1845818-A-coroa-da-princesa-sonhadora/

*Fonte: Band

 

 

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