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Mosquito define destino humano

Sivaldo Venerando

O Brasil é o país das praias encantadoras. Também é o país da ludicidade no futebol e no samba. E, para completar a euforia, descobriu-se recentemente que, do seu céu encantador – coisa espetacular – chove dinheiro.

Mas o Brasil também é o país da burocracia e das leis intermináveis, um dos principais motivos do engessamento nas ações governamentais. A única coisa que sobra aos governantes desta pátria é a falta de compromisso com a vida humana.

Os mandantes desta terra “mãe gentil” preferem “chorar o leite derramado” a ter de programar políticas de prevenção a doenças. Portanto, constantemente a população é acometida com doenças primitivas como a varíola, por exemplo, que já deveria ter sido extinta.

O fato mais drástico dos últimos meses é uma doença pouco comum, mas que pode ter sido ocasionada por um minúsculo mosquito que se reproduziu assustadoramente (por falta de verba?). A saúde pública brasileira brinca com as doenças e agora terá de desembolsar muito dinheiro para cuidar de uma geração atingida pela microcefalia.

A doença neurológica pode ter ligação direta com o Zica Vírus transmitido pelo Aedes aegypti. A criança diagnosticada com o problema apresenta o formato da cabeça menor do que a de outras da mesma idade e sexo. Normalmente é percebida no começo da vida, sendo resultado do cérebro não crescer o suficiente durante a gestação ou após o nascimento. Só em Pernambuco, até o fechamento desta edição, já foram registrados 804 casos.

Pmicrocefaliaor enquanto, o Ministério da Saúde apenas recomenda que as mulheres evitem gravidez. Não há uma preocupação mais séria, como uma orientação sistemática a casais, e muito menos a disponibilização de exames laboratoriais que identifiquem a presença do Zica Vírus na corrente sanguínea de pessoas em idade reprodutiva.

O alerta para o combate ao mosquito transmissor do vírus foi feito em agosto deste ano, pelo Colegiado dos Secretários Municipais de Saúde (Cosems) e nada foi feito. Como “não havia recursos” – nem mesmo do céu – para que os municípios recebessem o inseticida que mata o mosquito, o Aedes aegypti se alastrou, provocando prejuízos irreparáveis para o futuro de muita gente.

O descuido custará caro às famílias com bebês que nasceram com a doença. Dentre as possíveis complicações, a criança com microcefalia pode ter retardo mental, atraso nas funções motoras e de fala, distorções faciais, nanismo ou baixa estatura, hiperatividade, epilepsia, dificuldades de coordenação e equilíbrio e alterações neurológicas.

Como agir

A microcefalia normalmente é detectada pelo médico nos primeiros exames após o nascimento em um check-up regular. Crianças com microcefalia têm problemas de desenvolvimento. Não há cura para a microcefalia, mas tratamentos realizados desde os primeiros anos melhoram o desenvolvimento e qualidade de vida. A orientação é realizar terapias para melhorar as habilidades da criança, como a fala. Portanto, a fisioterapia, terapia ocupacional e outras formas de tratamentos orientadas pelo médico são bem vindas.

 

Entrevista 

fotoCom vários anos de experiência no cuidado com crianças portadoras de necessidades especiais, a pedagoga Irla de Fátima, também pós-graduada em psicopedagogia e especialidade em psicanalista, traça um panorama dos limites e das evoluções positivas dos portadores da microcefalia. Acompanhe a entrevista:

Voz do Planalto – Como lidar com uma criança com problemas como a microcefalia?

Irla de Fátima – A criança com microcefalia necessita de intervenções terapêuticas que possibilitam melhor desenvolvimento das mesmas: fisioterapeutas, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais são indispensáveis. Quanto mais cedo a intervenção, melhor. O especialista norte americano Bryan Matison afirma que, quando a atenção básica começa após o parto, é possível que o indivíduo consiga reabilitar-se e ter uma vida normal, com algumas limitações.

VP – Que cuidados os pais devem ter?

IF – Os cuidados devem começar pós-parto; onde a criança deverá ser acompanhada por um neuropediatra, fisioterpeuta, terapeuta ocupacional, ou seja, uma equipe multidisciplinar que possibilitará à família e à criança uma vida de qualidade, superando suas limitações e adaptando-se às que não puderem ser revertidas. Atualmente este tratamento é oferecido pela AACD e APAE, que têm vagas limitadas e uma fila de espera, ou é bancado pela família em clínicas particulares.

 

VP- É possível pessoas com esse problema desenvolver a aprendizagem?

IF- O diagnóstico e a intervenção são muito importantes para o desenvolvimento da criança. Quanto maior for a espera, é provável a instalação de dificuldades motoras, de aprendizado, entre outras. No entanto, com a ajuda da família e profissionais qualificados, é possível que a criança desenvolva-se dentro de suas limitações.

 

VP – A educação brasileira está preparada para enfrentar um problema dessa dimensão, ou precisa buscar maiores alternativas?

IF – Na verdade, a educação brasileira, as intervenções médicas nos bebês com microcefalia acabam afetando a qualidade de vida futura dessas crianças. Elas necessitam de um acompanhamento multidisciplinar e parceria com médicos especialistas e a família, pois grande parte delas apresentaram problemas motores, intelectuais, ou seja, precisarão deste cuidado para sempre. As escolas brasileiras não estão munidas destas equipes e materiais adequados para trabalhar com essas crianças. Mas, se algo começar a ser feito agora, é possível que estas crianças colham os frutos depois.

 

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Pernambuco investe no combate ao Aedes aegypti

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Para enfrentar a epidemia de dengue, chikungunya e zika, o Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual de Saúde (SES), lançou o Plano de Enfrentamento às Doenças Transmitidas pelo Aedes Aegypti. Ao todo, serão investidos R$ 25 milhões nas ações, sendo R$ 5 milhões para o combate ao mosquito e compra de equipamentos (material de campo, bombas costais, EPI), R$ 5 milhões para campanha de mídia e R$ 15 milhões para estruturação de centros regionais de atenção às crianças com microcefalia.

Dos casos de microcefalia em Pernambuco, 211 atendem aos critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS). Além dos estudos e pesquisas para entender esse quadro, a SES está estruturando a rede para o atendimento das mães e das crianças no Estado. Os centros regionais de atendimento às crianças com microcefalia estão distribuídos nas macrorregionais de Caruaru (UPAEs de Caruaru, Belo Jardim e Garanhuns e os hospitais Mestre Vitalino e Jesus Nazareno), Serra Talhada (UPAEs de Serra Talhada, Arcoverde e Afogados da Ingazeira e no Hospital Prof. Agamenon Magalhães), Petrolina (UPAEs de Petrolina e Salgueiro e Hospital Dom Malan) e do Recife (Imip, Cisam, AACD, UPAE de Limoeiro e os hospitais Agamenon Magalhães, Oswaldo Cruz e Barão de Lucena).

Controle – A principal atividade executada pelos municípios para o controle do mosquito Aedes aegypti é a eliminação dos criadouros e a aplicação de inseticida (larvicida) químico para a eliminação das larvas do inseto. O larvicida é utilizado nos depósitos positivos (com a presença de larvas) ou vulneráveis (que permitem a oviposição pela fêmea do mosquito) que não são passíveis de serem eliminados mecanicamente (destruição, vedação ou destinação adequada).

“Estamos vivendo uma epidemia grave, pela qual o país nunca passou. Portanto, é o momento das pessoas se comprometerem, colaborando com as medidas que temos adotado para evitar que o mosquito nasça”, afirmou o secretário de Saúde de Limoeiro, Orlando Jorge.

O município ainda aguarda uma ação mais eficaz que é a presença do carro fumacê que dispõe do inseticida capaz de matar o mosquito. Por enquanto, 41 agentes fazem o mutirão de eliminação de larvas nos bairros de Limoeiro, e também passam orientações às famílias. “Estamos reunindo todos e contando com a colaboração da sociedade civil: ONG’s e igrejas, para vencer o mosquito”, concluiu Orlando.

O reforço nas ações de campo conta, em Pernambuco, com o apoio de 200 soldados do Exército, que atuarão na RMR, junto aos agentes de endemias, visitando residências, fazendo o manejo de larvicidas e orientando a população. Depois, os soldados seguirão para os municípios do interior.

 

Dengue1Dengue – Doença infecciosa causada por um vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Seus sintomas são: dor de cabeça, nos músculos, juntas e olhos; manchas vermelhas no corpo e febre alta por cerca de uma semana; vômito, diarreia e falta de apetite. Nos casos mais graves, pode ocorrer dor abdominal, tonturas, desmaios; sangramento nas gengivas, nariz e outros locais do corpo; suor frio, fezes escuras e vômito. Já foram notificados mais de 119.646 casos de dengue (42.781 confirmados), distribuídos em 185 municípios. Isso representa um aumento de 575,89% em relação ao mesmo período de 2014, quando foram notificados 17.702 casos suspeitos, confirmando 6.573 desses.

 

Chikungunya – Doença transmitida por mosquitos do gênero Aedes, sendo Aedes aegypti e Aedes albopictus os principais vetores. É caracterizada por febre alta, dores articulares ou artrite intensa com início agudo, podendo estar associados à cefaléia (dores de cabeça), mialgias (dores musculares) e exantema (manchas avermelhadas na pele). Alguns dos sintomas, como as dores articulares, podem se tornar crônicos, persistindo por até dois anos.

Os primeiros casos de chikungunya ocorreram na Tansânia, leste africano, entre 1952 e 1953, e de lá se espalharam pela África. Na Ásia, os primeiros registros foram entre 2004 e 2005 e no Caribe, 2013. No Brasil, os primeiros casos confirmados foram em 2014. Em Pernambuco, o primeiro caso autóctone foi em 2015. Mais de 1.052 casos suspeitos de chikungunya foram notificados, sendo 213 confirmados (03 importados, sendo 02 no município de Iguaraci e 01 em Itaíba, todos com infecção no estado da Bahia; e 210 autóctones, sendo 127 na Região Metropolitana do Recife e 83 na região do Agreste). Até agora, 229 casos foram descartados.

 

zika-480x330Zika – Doença viral aguda transmitida pelo mosquito Aedes aegypti e caracterizada pelo aparecimento de manchas avermelhadas pela pele, febre baixa ou inexistente, dores articulares ou musculares, dor de cabeça, coceira. Os sintomas desaparecem entre o 3º e o 7º dia. De acordo com o Ministério da Saúde, na literatura, 80% dos casos das pessoas infectadas não desenvolvem manifestações clínicas.

O vírus Zika foi isolado pela primeira vez em primatas não humanos em Uganda, na floresta de Zika em 1947. Entre 1951 a 2013, evidências sorológicas em humanos foram notificadas em países da África (Uganda, Tanzânia, Egito, República da África Central, Serra Leoa e Gabão), Ásia (Índia, Malásia, Filipinas, Tailândia, Vietnã e Indonésia) e Oceania (Micronésia e Polinésia Francesa). Nas Américas, o Zika Vírus somente foi identificado na Ilha de Páscoa, território do Chile no oceano Pacífico, no início de 2014. No Brasil, a primeira confirmação ocorreu este ano. Atualmente, no Brasil, não há um sistema de notificação compulsória da doença. As notificações ocorrem apenas em unidades sentinelas que, no Estado, estão localizadas em Olinda (Hospital Tricentenário), Jaboatão dos Guararapes (Hospital Jaboatão Prazeres) e Recife (Hospital Helena Moura). Nesses locais, são realizadas coletas de material que serão analisadas no Instituto Evandro Chagas, em Belém do Pará.

 

Precauções  

Cuidados importantes para eliminar os focos dos mosquitos:

– Mantenha bem tampados caixas d’água, jarras, cisternas, poços ou qualquer outro reservatório de água.

– Mantenha as lixeiras tampadas e secas. Nunca jogue lixo em terrenos baldios.

– Coloque no lixo todo objeto que possa acumular água. O lixo deve ser colocado em sacos plásticos bem fechados.

– Lave os bebedouros de animais com uma bucha pelo menos uma vez por semana e troque a água todos os dias.

– Cubra e guarde os pneus em locais secos, protegidos das chuvas.

– Guarde as garrafas secas de cabeça para baixo e não deixe no quintal objetos que acumulem água.

– Encha os pratinhos de plantas com areia.

– Retire a água acumulada sobre a laje.

– Mantenha as calhas d’água limpas.

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