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Mudanças Climáticas fazem regiões áridas crescerem em PE e ameaçam futuro da agricultura

A situação será apresentada pela climatóloga Francis Lacerda, do IPA, durante reunião na terça-feira (24), em Sergipe, com meteorologistas do Nordeste, quando será anunciada, também, a previsão climática para os próximos três meses na região 

Na próxima terça-feira (24), às 9h15, o Centro Hidrometeorológico de Sergipe (CHS), reunirá os demais órgãos meteorológicos dos estados do Nordeste, o Instituto Nacional de Meteorologia e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais para, juntos, fazerem a previsão climática para os próximos três meses para Região.O evento será remoto e de forma presencial. Terá como convidada a coordenadora do Laboratório de Mudanças Climáticas do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Francis Lacerda. Na ocasião, será debatido sobre os impactos do novo comportamento do clima nas áreas semiáridas e até nas subúmidas (Agreste), a exemplo de Caruaru/PE. O assunto ganha destaque diante do avançado e acelerado processo de alterações climáticas que vêm ocorrendo naquelas microrregiões.

Overland Amaral, coordenador do centro sergipano, convidou Francis para tratar sobre o avanço das áreas de desertificação na Caatinga pela experiência e atuação da climatóloga nesta questão. A pesquisadora atua em trabalhos em busca de soluções inovadoras, não limitadas apenas ao trabalho voltado para mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. 

“Devido às alterações do clima em curso, já vivemos um processo de desertificação acelerado do que no passado. E não apenas no semiárido, mas também no Agreste, como em Caruaru”, diz Francis. Ela coordena e atua em uma rede de pesquisadores sobre a questão (Ecolume), então financiada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI/CNPq). O Ecolume tem se dedicado ao desenvolvimento e à implantação de tecnologias para a adaptação dos modos de produção rural nestas áreas, potencializando, justamente, essa abundância solar e demais características do solo, clima e da vegetação do bioma Caatinga. 

“Nos últimos anos, pudemos demonstrar esse conceito, através da criação e da operação do primeiro Sistema Agrofotovoltaico, da América do Sul, o Ecolume em PE, adaptado ao semiárido brasileiro, no Sertão do Moxotó, na Escola Serta em Ibimirim”, conta Francis. 

Mesmo com todas as limitações, em especial pela falta de visão e de políticas públicas, de recursos para as pesquisas e ações de adaptação às mudanças climáticas na Caatinga, a rede tem conseguido demonstrar as potencialidades da agricultura no semiárido, neste contexto, desde que consorciada à produção de energia, captação, reciclagem e reuso de água e sobretudo no reflorestamento, o qual qualifica o ciclo hidrológico e microclima local.

Os primeiros resultados do Ecolume impressionam. Numa pequena área de apenas 24 m², instalado na escola Serta em Ibimirim/PE, o rendimento anual é de R$ 10.844. O montante consiste na produção de 130 kg de peixe (R$ 2,6 mil), 750 ovos de galinha (R$ 365), 810 unidades de vegetais (R$ 1,6 mil), 200 mudas de plantas nativas (R$ 3 mil) e mais R$ 3,25 mil anuais com a produção de 5.7 mil KWh/ano das placas fotovoltaicas. 

Apesar dos benefícios, a unidade experimental do Ecolume instalada em Ibimirim continua sendo a única em todo o Nordeste. Nem mesmo em Pernambuco existem outras. E, infelizmente, com o término, neste mês, do projeto Socioeconomia Verde no Bioma Caatinga, financiado pelo MTCI/CNPq para a criação do Sistema Agrofotovoltaico, o mesmo corre grande risco, ou melhor, está sob ameaça o necessário e urgente início de sua replicação, em escala, pelo Semiárido e Agreste nordestino.

“Uma simulação simples, se o modelo for replicado numa área maior, de 24 Km² da Caatinga, o que equivale a 10% dos pastos degradados do semiárido no Nordeste, o potencial de rendimento é significativo: 10 bilhões por ano”, garante Francis.

A pesquisadora alerta que o Semiárido tende a se tornar árido e a semiaridez avança para as áreas úmidas e subúmidas. Aliás, segundo ela, a desertificação está avançando para o Agreste também, como na cidade de Caruaru/PE, que tem apresentado tendéncia à aridez. Logo, a Caatinga vem avançando, mas não com qualidade e sim degradada. As mudanças do clima, potencializam esse processo. Ações de adaptação são vitais sobretudo para o futuro da agricultura nestas regiões.

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