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Mulheres vítimas de violência doméstica têm direito à cirurgia reparadora gratuita

Mulheres que são vítimas de violência do marido, do companheiro ou do namorado podem receber cirurgias plásticas reparadoras sem pagar nada. Como nem todas sabem desse serviço gratuito oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a Polícia Civil de Pernambuco resolveu encaminhar as vítimas que prestam queixa na delegacia para receber o atendimento médico.

“Agora, quando a vítima vier à delegacia, no Recife, registrar lesão corporal que tenha deformidade, será encaminhada naquele momento, através de ofício, para o Hospital Agamenon Magalhães. Vai receber apoio psicológico e encaminhada para cirurgia”, afirma a delegada da Mulher, Tereza Nogueira.

Caso não exista delegacia da mulher no município onde mora, a orientação da Polícia Civil é que a vítima deve procurar a delegacia mais próxima para registrar um boletim de ocorrência. Dessa forma, é possível encaminhar a vítima, também via ofício, para a unidade de saúde mais próxima.

Atendimento no Recife

O Hospital Agamenon Magalhães, no bairro de Casa Amarela, na Zona Norte do Recife, é referência para esse tipo de atendimento no Recife. O chefe da cirurgia plástica, Carlos Lacerda, conta quais lesões mutilantes são as mais comuns.

“Algumas chegam com a ponta do nariz arrancada, chegam de máscara, se escondem, e as vezes nem procuram o serviço”. De acordo com registros divulgados pelo hospital, apenas três vítimas de violência foram operadas nos últimos cinco anos.

O número é baixo porque muitas pacientes não declaram como o ferimento surgiu porque tem medo ou vergonha. No entanto, elas perdem o direito do atendimento prioritário.

Para evitar que as vítimas fiquem sem esse tipo de procedimento, a Secretaria Estadual de Saúde orienta as mulheres a procurarem primeiro o Serviço de Apoio Wilma Lessa, que funciona dentro do Hospital Agamenon Magalhães e pode ser contactado pelo telefone (81) 3184-1740.

A unidade recebe essas mulheres que foram vítimas de agressão sexual e doméstica para um acompanhamento especializado com psicólogo, assistente social, médico ginecologista e enfermeiro. O serviço funciona 24 horas, de domingo a domingo.

“Violência contra mulher é crime e precisa ser denunciado, mas a gente acompanha ainda uma certa resistência das mulheres em denúncia, por ‘N’ motivos: descrença no trabalho da polícia, da justiça, seja por vergonha, seja por não querer indisposição maior com a família, com o próprio agressor, medo de sofrer retaliações. É uma problemática complexa e a gente precisa acolher essa mulher em todos os seus medos”, afirma a gerente do Wilma Lessa, Mônica Gomes.

Depois da mudança desse tipo de atendimento, o número de registros aumentou para 345 no ano passado. “O corpo foi violado. Então é fundamental para ela, no processo de reabilitação, ter direito ao seu corpo novamente, como ele era antes da violência. É fundamental para a reabilitação psicossocial dela”, diz a gerente.

Ansiedade pela cirurgia

Durante cinco anos, uma mulher, que não teve o nome divulgado, foi agredida pelo namorado dela na época. “Todas as vezes que a gente discutia, ele dizia que ia dar uma facada em mim, que ia me matar, que eu não ia viver com ninguém, que eu traia ele. Era o tempo todo isso”, conta.

Em julho de 2017, o que era ameaça se transformou em uma tentativa de homicídio. O homem não aceitava o fim do namoro e, durante uma discussão, feriu a mulher com uma faca. O corte na barriga rendeu a vítima 34 pontos e uma grande cicatriz, capaz de ser removida apenas através de uma cirurgia plástica reparadora.

“Ainda não estou nem dormindo. Estou muito ansiosa. É meu sonho tirar essa cicatriz. Ela representa pesadelo, cena de terror, toda hora, todo instante”, conta. Foi na Delegacia Especializada da Mulher que ela descobriu o procedimento gratuito oferecido às vítimas de agressão doméstica.

Baseada na lei estadual nº 13.300, de 2017, do deputado Clodoaldo Magalhães (PSB), a lei nº 13.239, de 30 de dezembro de 2015, determina como obrigatórias, no SUS, a oferta e a realização de cirurgia plástica reparadora de sequelas de lesões causadas por atos de violência contra a mulher.

Ela foi a primeira paciente em Pernambuco encaminhada oficialmente pela polícia ao hospital e sonha com o dia da cirurgia. “Queria que todas as mulheres pensassem igual a mim, não se intimidassem, não ficassem com medo, não ter medo de correr atrás dos seus direitos e ser feliz”, afirma.

*G1PE

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