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O perigo dos carros-pipa

A terrível seca que castiga Pernambuco fez com que dos 40 grandes reservatórios de água localizados no interior do Estado 15 já se encontrem em situação de colapso, sendo que destes 13 estão completamente zerados. Esse quadro de desastre – anunciado, como se sabe – levou ao aumento do comércio de água em carros pipa, um recurso de sobrevivência que ultrapassou os caminhos mais distantes do Sertão e Agreste e chegou à Região Metropolitana que, se ainda não foi vitimada pela seca inclemente, tem suas limitações de abastecimento e se socorre do mesmo modo para atender a segmentos da população mais carente.

Apesar de ser uma solução emergencial possível, é forçoso salientar que o carro-pipa pode ser também uma solução enganosa de alto risco. Ele tem o mérito de suprir o que falta de abastecimento regular pelas torneiras, pela chuva ou através das cisternas para a reserva d’água, mas pode ser igualmente agente de contaminação e proliferação de doenças, conforme adverte, corretamente, a Vigilância Sanitária. O risco é maior quando a comunidade depende de veículos de procedência desconhecida, distribuidoras clandestinas que começam a surgir com o aumento da demanda, transformando em um bom negócio o que deveria ser apenas uma ação de socorro.

Essa variável, a dependência do carro pipa – entre tantos males que chegam com a estiagem prolongada – torna mais agudo o problema na forma como ele é visto e sentido hoje, mesmo quando são tão fartos os meios técnicos e de comunicação para que o enfrentamento se desse de forma mais amena, poderíamos até dizer rotineira pela sua recorrência. E escancara ainda mais a falta de sintonia do poder público com o tamanho do desastre, apesar da montanha de documentos e testemunhos de outras secas, cíclicas e previsíveis.

Não se deve levantar suspeitas infundadas nem criar condições para alimentar o clima de pânico ao associar a qualidade da água à possibilidade do surgimento de epidemias, mas é dever do poder público e dos meios de comunicação alertar preventivamente. Como se faz sempre que chega o período de chuvas com os seguidos alertas para a possibilidade de alagamentos e deslizamento de barreiras. Assim, com o aumento extraordinário de carros-pipa abastecendo as áreas mais atingidas pela seca, nem de longe pode ser tido como exagero chamar atenção para o potencial de risco que há.

A mercantilização do fornecimento de água induz à pressa e à utilização de fontes não confiáveis, o que leva a um outro tipo de vigilância, a social, em que a população assistida deve contribuir verificando a limpeza da água e, mesmo com a garantia de que tem boa procedência, aplicando o recurso mais elementar e ao alcance de todos, que é a fervura, ou a filtragem.

De qualquer forma, é preciso haver uma parceria entre todos os interessados e os poderes públicos para que além da tragédia da seca não sobrevenha um mal que pode ser até pior, mas controlável.

Fonte: Jornal do Commercio

 

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