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OPINIÃO: 515 anos do São Francisco e a  morte no rio

Por Paulo Ferreira

4 de outubro de 1501. Dia de São Francisco. Américo Vespúcio, aquele do “descobrimento” da América e que deu o nome ao continente, foi o navegador que “descobriu” o grande rio nordestino. O rio-mar recebeu o nome do santo. 515 anos depois, o Velho Chico, como carinhosamente é conhecido, tornou-se protagonista de uma telenovela.

O “Rio da Unidade Nacional” é de enorme importância econômica e social. Rico em tradições culturais e manifestações folclóricas. Quando os “brancos” invadiram os sertões, a região era habitada por ferozes índios. Eles chamavam o rio de opará (rio-mar). O São Francisco, como qualquer outro, desperta os mais profundos sentimentos afetivos nos ribeirinhos, exercendo enorme fascínio e influência no imaginário popular. A abertura da novela mostrava, em uma xilogravura, a lenda da formação do rio.

Houve uma grande guerra entre as tribos do Sul e as do Norte que habitavam os chapadões. Entre os guerreiros destacava-se o amor proibido (por ser de outra tribo) de uma bela índia, Irati. Eram tantos guerreiros que seus passos afundaram a terra formando um grande sulco. O amor de Irati morreu lutando. A índia chorou tanto, tanto, que suas lágrimas desceram o vale e formaram as águas do São Francisco. É mesmo um rio de lágrimas.

atorMuitas também foram as que os brasileiros choraram com a trágica morte por afogamento do ator Domingos Montagner. A teledramaturgia, na verdade, foi um protesto pela degradação do meio ambiente, especialmente a poluição das águas. Criticou a intolerância, o racismo, a corrupção e a incompetência política, as velhas técnicas agrícolas, o latifúndio, a agroecologia. Essencialmente política e ecológica, a novela tratou de problemas sociais, da desertificação do Sertão. Exaltou a cultura popular e a mitologia nordestina. Discutiu a politicagem e o coronelismo.

A audiência não foi a esperada. O telespectador foi injusto com “Velho Chico”. Preferiam personagens bonitas e maquiadas. 100% nordestina (sofreu preconceito), exibiu sanfoneiros, violeiros, cachaças, forrós, cantorias, nossos atores. “há um rio afogando, secando, secando em mim”, diz canção de trilha sonora. Mas, infelizmente, ficará marcada pela morte de Montagner. Outras novelas tiveram casos parecidos (De Corpo e Alma – Daniela Perez (assassinada) e Meu Primeiro Amor – Sérgio Cardoso).

Ele morreu de infarto, mas ficou a suspeita de ser enterrado vivo (catalepsia). O Nego dÁgua arrastou Domingos para o fundo do rio. Na mitologia indígena, ele é o espírito protetor do São Francisco. Na verdade, as correntezas são perigosas para barcos, banhistas e pescadores. Algo raro aconteceu: a vida imitou a arte e o ator, o personagem.

O rio, que inspira patriotismo e amor ao próximo, não tem esse nome à toa. Inesquecível é a oração que o santo de Assis nos ensinou: “Senhor, fazei-me instrumento de Vossa Paz”. Oh, Mestre, fazei-nos “amar o amor”. Só isso transformaria o mundo.

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