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Ossadas empilhadas no cemitério de Paudalho

Laís Araújo – Diario de Pernambuco

Após o aparecimento de ossos humanos numa casa vizinha ao cemitério municipal de Paudalho, uma descoberta: ossadas retiradas de gavetas mortuárias, sem identificação – nem qualquer tipo de cuidado – estão amontoadas em um canto do sepulcrário. Este, um dos únicos cemitérios da cidade na Zona da Mata de Pernambuco, não possui ossuário adequado para o armazenamento de todos os cadáveres. Os restos se encontram misturados, dentro e fora de sacolas, em um canto discreto do local.

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Imagem registrada no dia 2 de setembro, por morador que prefere não se identificar, mostra possível vilipêndio a cadáveres. Foto: Cortesia

Sobre um gaveteiro com sepultadosrecentes (onde o nome dos mortos é gravado diretamente no concreto) estão as ossadas. Uma árvore e uma mesa são os únicos meios para subir e visualizar o local, por isso a situação só foi descoberta após parte de um esqueleto cair na casa muro a muro com o cemitério. “Temos um grupo na cidade que vem fiscalizando o que acontece, então acabamos sabendo da situação”, explica Isak de Castro, estudante de história de 22 anos, citando o grupo Muda Paudalho. “Viemos aqui, registramos e entramos em contato com um promotor público, que ficou de falar com a prefeitura.” A reportagem do Diario falou com uma residente da casa onde a ossada foi encontrada, que confirmou o fato, mas preferiu não se identificar. “Isso não pode continuar. Estou procurando informações, pois provavelmente os restos mortais da minha avó que faleceu há 5 anos está no meio destes”, lamenta Isak.

Coveiro do local há 10 anos, Edvan Angelino conta que o procedimento de retirada das ossadas é feito para abrir espaço para novos sepultamentos, e que há o conhecimento prévio dos familiares que os restos serão removidos após cerca de dois anos. “Cada gaveta tem um número e uma letra – como, por exemplo, B9 – e essa é a identificação que a gente coloca nos sacos. Se a família aparecer rapidamente, com um ou dois meses da retirada, ainda é possível identificá-los.

Depois, fica difícil.” Ele confirma que, mesmo assim, aparecem familiares que não tem conhecimento da remoção, e não encontram os parentes sepultados ou seus restos. “Tudo é feito corretamente, não deixamos sacos abertos, não.”

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As ossadas estão localizadas sobre um gaveta mortuária como esta, num local de acesso complicado. Foto: Rafael Martins/Esp. DP/D.A. Press

A mesma afirmação é dada pela prefeitura de Paudalho, que diz em nota que “não existem ossadas expostas de forma irregular”. É explicado que há uma superlotação do cemitério e, portanto, ossadas são retiradas das gavetas públicas após 3 anos do sepultamento e, desde que não haja reivindicação da família, colocadas em sacos de nylon identificados. Não foi o que a reportagem do Diario verificou: os restos não estavam em recipientes lacrados nem com identificação. A prefeitura também afirma que após o término do inverno iniciará a construção do ossuário coletivo no cemitério de Pirassirica, distrito de Paudalho, como acordado com o Ministério Público Estadual.

 

Ministério Público notifica Prefeitura de Paudalho por ossadas irregulares

http://vozdoplanalto.com.br/ministerio-publico-notifica-prefeitura-de-paudalho-por-ossadas-irregulares/

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