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Sarapatel é tradição na culinária carpinense

Desde o tempo do “trem ferreiro”, início do século XX, que o sarapatel é prato típico de Carpina

Moradores de Carpina afirmam que o sarapatel de Dona Creuza, muito procurado pelos apreciadores de cachaça e cerveja e também por visitantes na feira livre da cidade, é uma das tradições gastronômicas da cidade.  A “banca” ou barraca de Creuza Fernandes da Silva, 80 anos, já se constitui até como atração turística. O seu produto já fez parte de script da novela da Globo, “Império”, que recebeu o Emmy internacional, “oscar” da televisão. A culinarista nos contou que a receita do seu sarapatel é herança de sua mãe, Dona Severina, já falecida. “Quando mamãe ficou viúva e não tendo como sustentar os filhos, ela resolveu abrir um negócio para vender sarapatel, galinha a cabidela, pratos à base de carne de boi e porco, cuscuz, macaxeira e inhame, bebidas fortes e refrigerantes. O mesmo aconteceu comigo, quando enviuvei, para sustentar meus sete filhos (dois foram morar em São Paulo), fui ajudar na banca de mamãe”, relembrou.

A barraca, hoje, funciona na segunda esquina da Rua Manuel Borba, de quinta-feira a sábado, de dia, noite e madrugada. “Na época do trem ferreiro, que trazia gente de todo Pernambuco para a feira livre de Carpina, a nossa banca era muito visitada. O sarapatel também era o prato preferido de todos. Comiam, bebiam cachaça e ainda levam sarapatel para suas casas. Hoje, ainda vem gente do Recife, de Olinda e outras cidades comprarem meu sarapatel. Comem com macaxeira, cuscuz ou simplesmente como tira-gosto da cachaça. Meus bêbados são bons comigo e fregueses fiéis. Enquanto comem e bebem parecem crianças grandes. Não me interesso pelo que falam, sei que discutem sobre mulheres, futebol, política, religião. São todos ricos e felizes. Ainda recebo visita de pessoas que saíram daqui para buscar uma vida melhor em outras partes do Brasil, mas quando vem visitar parentes e amigos aqui, não deixam de vir a minha banca. Já ouvir dizerem: “Quem vem a Carpina e não provar o sarapatel de Dona Creuza; não conhece Carpina”.

 A receita – “Na época do bar de Santa, que havia na “rua do Inferno” (nome popular da antiga zona de prostituição da cidade), havia mais movimento e animação. Não tinha a violência de hoje. Há alguns dias, dois adolescentes foram mortos aos pés de sua mãe, perto daqui.

Não conheci a dona Santa, dizem que era uma mulher boa e ajudava a muitas mulheres. Vinham mulheres abandonadas por suas famílias, outras desonradas e rejeitadas pelos namorados… Acho que ela foi a única Santa que morou no inferno, disse e sorrimos.

Devota de São Sebastião, Dona Creuza é uma senhora simples, bondosa e simpática. Disse que já criou os filhos e ainda vende sarapatel “para inteirar os meus remédios”. Ela sofre de pressão alta, diabetes, precisa fazer uma cirurgia de catarata, entre outros problemas de saúde.

Diferente de outras culinaristas, não esconde o segredo: “Os ingredientes do sarapatel são poucos: sangue e miúdos de porco, temperos secos e verdes. Depois da preparação dos miúdos, colocam-se os secos (alho, folha de louro, vinagre, cuminho, sal e colorau) um dia antes de ir para o fogo. Os verdes, (Tomate, cebola, pimentão, coentro), na hora do cozimento. Agora é só mexer e esperar cozer”, explicou.

O freguês Carlos Alberto dos Santos, 68, anos, afirmou: “O sarapatel de Carpina é muito gostoso, acho que é o melhor do mundo”.

*Esta matéria faz parte da Série Carpina 90 anos. A culminância deste trabalho será a publicação de um livro sobre a história de Carpina. 

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