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ÁRVORE PREDILETA

Ao observar a árvore caída, vi seu topo cortado há muito tempo. 

   Ela jaz expondo suas raízes mostrando a fragilidade natural de tudo que nos cerca. 

      Mesmo desfalecida, inerte e agonizante ela oferece assento aos passantes que querem descansar no seu tronco caído ao chão.  

   Marcas e feridas que culminaram na sua queda recebem o diagnóstico final de que os anos de intempéries e o descaso a fizeram  falir, no entanto podemos rever  a sua história dos anos vividos através dos círculos da vida vistos no seu tronco forte e tortuoso, demonstrando a sua coragem de ter enfrentado os vendavais do tempo. 

      Abraço-me ao seu tronco, saudosa e reticente. Acaricio as suas folhas que ainda mostram viço.  

   Mesmo na sua queda ela respeitou o prédio que guarda  os animais sobreviventes ao vendaval que a abateu. 

      Entristeço-me e choro ao perdê-la, porém ela será eternizada nas minhas lembranças porque de seus frutos que provei ficaram conhecidos quando presenteava meus amigos e vizinhos com caldas e preservas. 

      Celebramos juntas a vida abnegadamente cumprida na tarefa de servir. 

   Quantas lições de vida me deste! Em teu tronco sinto o lodo frio e aveludado me acarinhando a pele, e com  minhas mãos deslizo por entre teus ramos numa atitude quase humana de igual para igual. Eu te fiz minha amiga pela necessidade maior de sobrevivência. 

      Essa árvore que apresenta  mutilações nos seus limbos menores, renasce num ato de amor. Ela sabe que se não forem podados seus ramos desnecessários, ela perderá sua seiva  e energia de se tornar viçosa e altaneira. A ela minhas palavras finais: Fica com Deus onde sempre estiveste a reverenciá-lo como    teu Criador, serás eterna pelas sementes que continuam a perpetuar a tua espécie. 

      Desaguei  ontem minhas mágoas enquanto lá fora a chuva desabava freneticamente. No meu subconsciente desconhecia que minha árvore  favorita sucumbira. Foi um sentimento  de perda ao vê-la caída. Ao longe percebi logo ao amanhecer que ela não balançava seus ramos me acenando. Verificando-a de perto, pude tocá-la, já que por sua altura jamais poderia fazê-lo, e já fazia sol quando decidi examiná-la de perto. 

      Ainda me pergunto por que tantas árvores já caíram após tempestades, mas nenhuma me levou a tal comoção. 

      Não é difícil lembrá-la ao mirar o horizonte e sentir sua presença física na minha imaginação. Mesmo assim  falo para todos, sentada no seu tronco, que ali  havia uma árvore imponente e distinta que nos deixou lições de abnegação. 

      Com a morte da minha árvore predileta, descobri a fragilidade das coisas que nos rodeiam e decidi enfrentar meus medos e me alçar no infinito como ela me ensinara. 

      Meu pesar é tamanho pela perca da minha árvore porque vendo suas raízes exportas, não há chances dela continuar a viver, pelo menos no local em que estava. 

      Essa árvore de galhos desnudos, num grito de socorro desliza num último abraço à terra que a acolheu. Sei que fatidicamente será decepada e amontoada em toras. E num gesto ímpar de  grandeza não dará mais frutos e sombra, mas aquecerá algum lar no inverno, num gesto de altruísmo iluminará os corações nas noites frias, ou ate quem sabe, estará celebrando no calor humano na noite de Natal o nascimento do seu Criador. E finalmente suas cinzas repousarão na neve que a desaguará na fonte da vida que continua. 

                     Lenilde Maria Davis, amante da Natureza, pernambucana residente nos Estados Unidos. 

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