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Escola de Igarassu dá exemplo de inclusão

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) assegura o direito à educação e à igualdade de condições para o acesso e permanência na escola a todas as crianças e adolescentes no Brasil. Escolas pelo país já abraçaram o desafio, promovendo políticas de inclusão nas escolas com resultados positivos. No início do ano letivo de 2013, a gestão da Escola Orfanato Sagrado Coração de Jesus, em Igarassu, percebeu que era a sua vez de sair da zona de conforto, adotando uma nova proposta de ensino e entrando para a lista de bons exemplos a serem seguidos.

Tudo começou quando Maria José de Souza procurou a escola para conseguir uma vaga para a sua filha Fabiana Santana, 17, que é deficiente auditiva. O seu filho mais novo Jhony Santana, 16, já estudava no 1º ano do ensino médio na escola e, mesmo ela sabendo da dificuldade que é encontrar uma unidade que atenda às necessidades comunicativas da filha, Maria José decidiu arriscar e procurar o gestor da escola. “Eles conseguiram logo uma vaga para Fabiana e me atenderam muito bem, gostei muito”, lembra Maria José.

Mesmo a escola não estando preparada para lidar com Fabiana, por não contar com professores capacitados para trabalhar com a língua dos sinais, o gestor da escola, professor Micanor Valério, viu na dificuldade uma oportunidade de fazer a diferença. “Foi um desafio. A escola ainda não possuía pleno conhecimento da língua, mas isso não nos desanimou e nós resolvemos abraçar a causa”, fala Araújo.

Com a resposta de que Fabiana tinha uma vaga garantida e já estava matriculada, Maria José espalhou a notícia e convidou a mãe de uma amiga de Fabiana, também deficiente auditiva, para conhecer a escola e tentar uma vaga para a filha.Confiando nas palavras de Maria José, Rejane Maria da Silva, mãe de Raiara Cássia Maria da Silva, 16, foi à escola e matriculou a filha, que hoje frequenta as aulas com a amiga Fabiana na mesma turma, no turno da tarde do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), já que ambas apresentavam distorção idade-série.

Já matriculadas, foi a vez da escola se adaptar e se especializar para atender as necessidades comunicativas das meninas e garantir que elas tivessem igual acesso ao conhecimento como os outros alunos. “Para promover a inclusão, nós criamos um projeto para a formação em linguagem de sinais para todos os professores do EJA e para os alunos da tarde também, que convivem com as duas alunas, não só os da mesma turma, mas os estudantes de todo o turno”, explica Micanor.

Para que isso fosse possível, a atendente educativa Glória Machado convidou um professor especialista em língua dos sinais de Itapissuma para fazer uma formação intensiva. O professor de libras aceitou de bom grado o chamado e realizou voluntariamente uma formação para seis professores e 60 alunos da escola durante seis horas, por dois dias. As duas novas alunas também participaram dessa formação, ora auxiliando o professor, ora aprendendo coisas novas.

Um dos objetivos do gestor da escola era criar uma cultura de inclusão entre os alunos e fazer com que a comunicação ultrapassasse as paredes da sala de aula e fosse para os corredores, por isso a formação integrou todos os estudantes do turno da tarde. O diretor da escola fala que as duas estudantes estão muito motivadas e que já é possível perceber uma melhoria no aprendizado de ambas.

A interação das estudantes com outros alunos e professores é real e elas não se sentem inibidas ou acanhadas em promover a comunicação em libras. “E nós acreditamos que o caminho é esse: criar um local onde todos se sintam a vontade e bem acolhidos”, explica Araújo.

Por esses resultados, o professor espera que a iniciativa da escola seja compartilhada e replicada em outras unidades de ensino, e deseja transformar a escola em um polo de acolhimento para alunos com necessidades especiais, tornando-se uma escola referência com perfil de inclusão.

“É possível fazer algo muito bom, mesmo com poucos recursos, basta abraçar a causa e buscar meios para que o projeto vire realidade e produza bons resultados. A nossa meta agora é criar uma identidade de inclusão para a escola junto com os nossos professores, que estão empenhados em melhorar cada vez mais e promover a verdadeira inclusão no ensino”, conclui o diretor.

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