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O Mar e o Aquecimento Global

Há 15 anos conheci a obra de Carl Sagan (1934-1996), um grande cientista, astrônomo, astrofísico, divulgador científico e autor de livros como “Cosmos” (1980), “Pálido Ponto Azul” (1994), entre outros. Ele não tinha nenhum medo de especular sobre o futuro da Terra e nos alertava há mais de 30 anos sobre o impacto do nosso modo de vida no meio-ambiente: utilizando a natureza como reserva de recursos sem trégua, submetida totalmente aos desejos de um mercado sem moderações e as possíveis consequências em nossa saúde.

Desde a Revolução Industrial, quando o homem descobriu como usar a energia do carvão mineral e o petróleo para aumentar a produção industrial de bens de consumo junto com o corte mal planejado de florestas nativas para maiores áreas de monocultura e/ou pastagens, fez com que a temperatura do nosso Planeta e continuasse crescendo de forma exponencial pela emissão de gases de efeito estufa. Hoje, infelizmente, a humanidade sente um pouco da fúria da Mãe-Natureza, que é implacável: climas secos em áreas que eram úmidas, chuvas descontroladas, furacões e nevascas em uma maior frequência. Para se ter uma ideia, a atividade humana foi tão impactante desde o século XVIII que entramos em uma nova fase geológica no Planeta denominada Antropoceno. Justamente quando as atividades humanas começaram a ter um impacto global significativo no clima da Terra e no funcionamento dos seus ecossistemas.

Ainda assim, o termo “Aquecimento Global” ainda é motivo de discussão entre cientistas, políticos e ambientalistas. Alguns discordam que o efeito estufa seja causado pelo acúmulo dos gases emitidos por atividades humanas e defendem que o efeito é causado pelo aumento da atividade e explosões solares, tomando como exemplo eras geológicas anteriores. Mas, em um artigo de 2020 na revista Springer, cientistas chineses calcularam que os oceanos já absorveram uma quantidade de calor equivalente a quase 4 bilhões de bombas de Hiroshima.

De todo o calor que a Terra recebe do Sol, 30% é refletido por ela e 70% penetra em sua superfície, apenas depois de passar por todas as transformações na superfície do planeta, o restante volta ao espaço. Mas, quando encontra uma grande quantidade de gases no caminho de volta que o absorve ao invés de deixa-lo passar, a temperatura da superfície aumenta cada vez mais. O gás carbônico (CO2) é o principal destes gases, não porque absorve mais, mas por existir em maior quantidade lá em cima.

É aí que os oceanos entram em cena, sendo os grandes “pulmões” do nosso Planeta, responsáveis por absorver grande parte do gás carbônico, participando do Ciclo Global do Carbono: a grosso modo, o CO2 se dissolve nas águas do oceano e as algas também o absorvem fazendo o processo de fotossíntese, alguns animais marinhos se alimentam das algas e o excesso de carbono fica depositado no fundo do mar servindo de “reservatório”.

E como bem sabemos que tudo tem limites, o oceano não é capaz de absorver todo o gás carbônico liberado no ar. O gás carbônico dissolvido na água forma um ácido fraco conhecido como ácido carbônico, que em pequenas quantidades não é capaz de causar grandes alterações no oceano. Porém, em grandes quantidades se torna um problema, é capaz de acidificar as águas do oceano e causar a morte de muitos corais e diversos animais marinhos; estima-se que a humanidade já lançou cerca de 400 bilhões de toneladas de CO2 desde o século XVIII.

Mas outro grande problema é que a capacidade do mar absorver o CO2 e outros gases depende muito da temperatura das águas. Quanto menor a temperatura, mais CO2 consegue ser dissolvido na água. E, além disto, este aumento da temperatura está causando o derretimento das calotas polares e o aumento do nível das águas em cerca de 3,1 mm por ano. Segundo a NASA (Agência Aeroespacial Norte Americana) cerca de 300 cidades irão sumir do mapa em até 80 anos, cidades como Veneza (Itália), São Petersburgo (Rússia) e Tóquio (Japão) caso não tentemos diminuir nossas emissões gasosas.

Comparando com anos atrás, é de se comemorar que hoje temos mais consciência ambiental e sabemos da importância do investimento e cuidado com a Natureza. O Brasil ainda tem muito o que melhorar, mas, mesmo assim, é referência mundial em produção de energia limpa e tem grandes potenciais: como a utilização de biomassa (realizado hoje nas nossas usinas de açúcar e várias outras indústrias), utilização de biogás, etanol e etanol de segunda geração, energia solar, eólica, energia das ondas e arquitetura sustentável. Ainda assim, devemos seguir fazendo nossa parte plantando árvores, cuidando das que já existem e tendo o devido cuidado com o uso da água.

Até porque, muito melhor do que perder tempo tentando apontar os culpados, é melhor prevenir do que remediar. É importante entender que nossa espécie atingiu um ponto crítico da nossa história, no qual temos o nosso destino nas mãos: Todo o conhecimento e bagagem evolutiva que acumulamos nestes anos podem ser usados de forma a engrandecer nossa civilização – ou então destruí-la por completo, se continuarmos insistindo nos erros do passado.

Por fim, como diria Carl Sagan: é nosso destino viver durante um dos capítulos mais perigosos do planeta e ao mesmo tempo um dos mais esperançosos da história humana. A nossa Ciência e a nossa tecnologia propuseram questões profundas: Nós vamos aprender a usar essas ferramentas com sabedoria antes que seja tarde? Vamos ver a nossa espécie atravessar esta passagem difícil com segurança, para que nossos filhos e netos aprofundem ainda mais a grande jornada de descoberta aos mistérios do universo?

Bruno Maciel

Engenheiro Químico, M.Sc.

Esp. Engenharia Ambiental e Sanitária

Consultor em Gestão Ambiental

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